Entenda os efeitos do El Niño no Brasil; saiba como afeta a agricultura
O El Niño ocorre quando as águas do Pacífico, próximas à Linha do Equador, passam por um aquecimento acima do normal por um período de no mínimo seis meses
Nas últimas semanas, muitos brasileiros viram os termômetros das cidades atingirem marcas recordes acima de 40ºC por causa de uma onda de calor escaldante. No Rio Grande do Sul, temporais inundaram centenas de municípios. O Amazonas pede por água diante de uma das secas mais severas do Rio Negro.
Afinal, por que cada região do país está enfrentando situações climáticas diferentes? O que está acontecendo é explicado pelos efeitos do fenômeno El Niño.
O fenômeno ocorre quando as águas do Pacífico, próximas à Linha do Equador, passam por um aquecimento acima do normal por um período de no mínimo seis meses. Ele altera a formação de chuvas, a circulação dos ventos e a temperatura e impacta de forma diferente as regiões da América do Sul, consequentemente do Brasil, como informa o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Conheça mais sobre o El Niño
O El Niño é um fenômeno climático que se origina na região do oceano Pacífico, mais precisamente ao longo da costa oeste da América do Sul, em locais como o território peruano.
Esse fenômeno é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas oceânicas nessa região, resultando em mudanças climáticas significativas em todo o mundo.
Ocorrendo de maneira cíclica, sem uma sazonalidade específica, geralmente inicia-se em dezembro, coincidindo com o início do verão no Hemisfério Sul.
O efeito do El Niño no Brasil pode variar, mas geralmente começa a ser sentido a partir dos meses mais quentes do ano, entre dezembro e março.
Essa é a época em que os impactos das mudanças nos padrões climáticos, como chuvas irregulares e temperaturas extremas, tendem a se manifestar de forma mais evidente em diferentes partes do país.
Há pesquisas que sugerem que as mudanças climáticas podem influenciar a intensidade e a frequência dos seus eventos. O aumento das temperaturas globais pode interagir com os padrões climáticos e oceânicos, potencialmente amplificando os efeitos do fenômeno.
Chuvas no Sul
Um dos efeitos de El Niño, como dito anteriormente, é o aumento de chuvas. A região mais afetada é o Sul do país. Isso porque há uma grande circulação de ventos, que acaba interferindo no movimento de outros ventos, impedindo o avanço de frentes frias pelo território brasileiro. Com isso, as frentes ficam estacionadas por mais tempo na região Sul, diz o Inmet.
Um boletim, divulgado neste mês, revela que as chuvas no Rio Grande do Sul chegaram a aproximadamente 450 milímetros, de 1º a 19 de setembro, quando a média histórica no estado varia de 70 mm a 150 mm.
Para outubro, novembro e dezembro, a tendência de chuvas acima do normal na região permanece.
“Nos primeiros 19 dias de setembro, a precipitação acumulada está acima da média em todo o estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, nos demais estados do país, há um déficit de precipitação, com volumes superiores a 50 mm abaixo da média histórica na Região Norte. Esta previsão reflete as características típicas de El Niño sobre o Brasil. Já a previsão de temperatura indica maior probabilidade de valores acima da faixa normal na maior parte do país”, diz o relatório produzido pelo Inmet, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad).
Em razão dos fortes temporais, o Lago Guaíba, em Porto Alegre, subiu mais de 3 metros e transbordou, alagando ruas e avenidas. A prefeitura precisou fechar comportas e reforçar a contenção das águas com sacos de areia.
Seca no Norte
Enquanto o Sul enfrenta enchentes, estados do Norte sofrem com a estiagem. No Amazonas, a capital, Manaus, decretou, nesta quinta-feira (28), situação de emergência em razão da seca do Rio Negro, que está em 16,11 metros (m), nível mais baixo para o período. Já são 17 municípios amazonenses em alerta por causa da estiagem.
A seca intensa e prolongada tem relação com El Niño. Durante o fenômeno climático, chove com intensidade e frequência no meio do Oceano Pacífico. Nessas chuvas, o ar quente e seco continua circulando, porém desce no norte da América do Sul, dificultando a formação de nuvens carregadas e de chuvas nas regiões Norte de Nordeste do Brasil.
“A previsão climática para o Brasil para Outubro-Novembro-Dezembro 2023 indica maior probabilidade de chuva abaixo da faixa normal entre o leste, o centro e a faixa norte do Brasil, com maiores probabilidades sobre o norte do país”, informa boletim do Inmet.
De acordo com nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), com base na quantidade de chuvas observada nos meses de setembro e outubro de 2015, quando foi registrado El Niño de grande intensidade, o número de municípios do Norte do país que irão sofrer com seca severa este ano deve ser maior, pelo menos 34% superior maior em a agosto de oito anos atrás.
Até quando vai o El Niño?
As previsões indicam grande probabilidade de El Niño se manter até, pelo menos, o fim de 2023.
“Esperava-se que este El Niño não fosse muito intenso, nem prolongado. Pois nós enfrentamos um período prolongado do La Niña, que resultou em efeitos inversos, ou seja, no resfriamento das águas do Pacifico por um bom tempo. Esse resfriamento também resultou em mudanças nos padrões climáticos. E, antes que nos recuperássemos dos efeitos do La Niña, já estamos enfrentando um El Niño mais forte”, afirmou o especialista em gestão de recursos hídricos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rodrigo Lilla Manzione, em reportagem publicada pelo Jornal da Unesp.
Veja aqui os efeitos previstos de El Niño para cada região do país:
Região Norte: secas de moderadas a intensas
Região Nordeste: secas de diversas intensidades
Região Sudeste: aumento moderado das temperaturas médias, principalmente, no inverno e no verão.
Região Centro-Oeste: chuvas acima da média e temperaturas mais altas
Região Sul: chuvas acima do normal