Há três anos, pesquisadores da Embrapa desenvolveram um projeto que permite ao consumidor comprar açúcar mascavo rastreável, para saber de onde veio e se a produção é sustentável.
O Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar) dá mais um passo em direção ao futuro, com o rastreamento sendo feito por meio de blockchain.
Uma empresa produtora de açúcar mascavo que fica em Charqueada, no interior de São Paulo, que participou do projeto-piloto, agora está licenciada e pode comercializar usando essa tecnologia.
O Planeta Campo foi conhecer como isso funciona.
O que é o sistema?
Por meio de um QR Code, é possível saber todas as informações sobre o plantio da cana, a colheita e a transformação em açúcar mascavo.
A tecnologia criada pela Embrapa permite que os dados de fabricação do produto sejam armazenados em blocos digitais, usando a blockchain para construir uma sequência de registros que não pode ser alterada, o que garante integridade das informações armazenadas durante todo o processo de produção e para sempre.
Afinal, o que é blockchain?
A blockchain é uma base compartilhada de dados que faz o registro e validação de transações digitais processadas por uma rede de computadores.
“No caso da cadeia produtiva de açúcar e álcool, usamos o lote de fabricação como um bloco de informações. Comprimimos esse bloco e isso forma uma espécie de assinatura digital para aquele lote”, detalha Alexandre de Castro, pesquisador da Embrapa.
Apesar da “compressão” das informações, Castro afirma que, se a indústria produtora quiser inserir mais dados, é possível.
No caso da usina de Charqueada, foram disponibilizadas as seguintes informações:
- data de produção
- variedade de cana usada
- identificação e geolocalização da propriedade rural que ofereceu a matéria-prima
- informações sobre a análise química e física do produto
Por quê o açúcar mascavo?
Vitor Mondo, chefe-adjunto de transparência de tecnologia da Embrapa, explica que a escolha pelo açúcar mascavo foi feita por ser um produto em que o consumidor já está mais preocupado com a qualidade do que vai comprar.
“Desde lá do talhão, na produção de cana, até a embalagem há uma série de informações que são coletadas. Todas elas reunidas na blockchain permitem que o consumidor saiba exatamente quais são as práticas aplicadas no cultivo do açúcar que está levando”, explica.
Rastreabilidade já existe no exterior
A produtora rural Mariana Granelli lembra que mercados mais maduros, como na Ásia e na Europa, a rastreabilidade dos produtos existe há mais tempo, como no caso dos grãos, carne e algumas frutas.
“O açúcar é um dos produtos mais exportados do país, e a gente não tinha rastreabilidade nenhuma. Então, a ideia veio nessa onda de sustentabilidade e transparência para o consumidor”, explica.
Sustentabilidade em todos os níveis
A utilização do QR Code e do blockchain vem para agregar ainda mais sustentabilidade às produções de açúcar no país.
Mariana conta que, com a possibilidade de disponibilizar os dados dos produtores, é possível que o consumidor saiba se as áreas utilizadas não degradam o meio ambiente, e se as boas práticas do manejo sustentável são aplicadas.
Açúcar mascavo é só o começo
A ideia dos pesquisadores da Embrapa é levar a tecnologia também para outros cultivos. Mas não é só isso.
“A segunda etapa do nosso projeto é fazer um convênio com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que, a partir dessas informações dos locais sustentáveis, possam ser gerados créditos de carbono“, completa Mariana.