
O Brasil é líder mundial na devolução de embalagens de defensivos agrícolas. O que antes era visto como um passivo ambiental virou um exemplo de economia circular que protege o meio ambiente, impulsiona a reciclagem e gera benefícios concretos para o campo e para a cidade.
A fazenda Santo Expedito, em Jaciara (MT), é um exemplo desse compromisso com o agro responsável e com o meio ambiente. Com uma área de 4.800 hectares cultivados com soja, milho, algodão e milheto, cada embalagem usada segue um protocolo rigoroso: aplicação, tríplice lavagem e devolução.
“A gente leva a questão ambiental muito a sério. É um dos itens que a gente tem muito foco dentro da empresa”, explica o gerente de produção, Luís Antônio Huber.
Em média, cinco carretas de embalagens são devolvidas por safra só nessa propriedade. O agricultor Paulo Roberto Rossato quer que essa consciência continue com os mais jovens. “A gente passa pros filhos. Tem filho que é agrônomo, e já tem netos vindo aí, aprendendo desde cedo a preservar a natureza”, destaca.
Cenário no Mato Grosso do Sul
Na última safra, Mato Grosso devolveu mais de 20 mil toneladas de embalagens, quase 30% do total recolhido em todo o Brasil. E a tendência é de crescimento: estima-se que o volume aumente entre 7% e 9% em 2025.
Para garantir que ninguém fique de fora, o sistema Campo Limpo promove coletas itinerantes. A ideia é alcançar pequenos produtores, mesmo aqueles que utilizam apenas um ou dois litros de defensivo por ano. O objetivo é simples: totalizar o recolhimento e garantir que cada embalagem tenha destino correto.
Parte desse material é reciclada e ganha novas formas e funções. Mais de 30 tipos de produtos são fabricados a partir do plástico coletado. O destaque é a revalorização das próprias embalagens de defensivos agrícolas, fechando o ciclo de maneira exemplar.
“É algo muito nosso, muito brasileiro. Estamos trabalhando para que no futuro possamos reciclar tudo. A reciclagem é o processo mais nobre quando se fala em sustentabilidade”, afirma a engenheira agrônoma, Rosangela Gomes Soto, do Instituto Nacional De Processamento De Embalagens Vazias (InpEV).
Reaproveitamento da indústria
Com mais de 20 anos de experiência, a Plastibras de Cuiabá (MT), uma das indústrias parceiras do sistema transforma essas embalagens em dutos utilizados na construção civil, no agronegócio e na infraestrutura urbana. O processo envolve trituração, tratamento, secagem e moldagem do plástico reciclado.
A produção é contínua: 24 horas por dia, sete dias por semana. A planta emprega 215 pessoas diretamente e exporta para Chile, Peru e Argentina. “100% dos nossos produtos são feitos com o polietileno de alta densidade da agricultura brasileira. O que era lixo vira produto para maternidades, hospitais, rodovias”, destaca Adilson Valera Ruiz.
Nem mesmo a água usada no processo é descartada. Toda ela passa por tratamento e é reutilizada na linha de produção. Já os resíduos sólidos, ricos em celulose, são aproveitados em projetos de pavimentação sustentável. A indústria não gera esgoto: tudo é reaproveitado dentro do próprio sistema, com foco total na sustentabilidade.
Os números impressionam. De acordo com o sistema Campo Limpo, a reciclagem de embalagens evitou a emissão de 75 mil toneladas de gases de efeito estufa, economizou 43 milhões de litros de água e gerou energia suficiente para abastecer milhares de casas. No total, mais de 1 milhão de toneladas de CO₂ deixaram de ser emitidas na atmosfera.
“Se não fosse o agricultor comprometido em devolver as embalagens, a gente não teria esse crescimento. A prova está no campo, no transporte, nos produtos sustentáveis. É um case mundial. Nenhum outro país tem um índice de recolhimento tão alto quanto o Brasil”, reforça Ruiz.