Cooperativas incentivam desenvolvimento social e boas práticas ambientais
Modelo de negócios fortalece as negociações e promove a troca de informações entre produtores rurais
As cooperativas são um modelo de negócio bastante expressivo no agronegócio brasileiro. Elas fortalecem os produtores rurais por meio das negociações em conjunto para a compra de insumos e comercialização da produção, além de promover o constante desenvolvimento da cadeia produtiva por meio da troca de informações.
Em Paranapanema, no interior de São Paulo, por exemplo, o agricultor Luiz Fernando Doneux alcançou uma produtividade de 85 sacas de soja por hectare na última safra e acredita que a cooperativa teve um papel importante para negociar a produção. “A grande vantagem de ser cooperado é que você tem oportunidades de negócios tanto na compra de insumos como na venda da sua produção. Você está sempre por dentro do que está acontecendo no mundo e no mercado. O mercado de soja flutua muito durante o ano, então você tem duas informações, você consegue adquirir os seus insumos num preço bem razoável e consequentemente vai conseguir vender também por um preço muito bom”, acredita.
Outro ponto positivo desse modelo de negócios é o incentivo à adoção de boas práticas de produção para preservar o meio ambiente e até mesmo para melhorar a rentabilidade dos negócios. “Uma das principais práticas [na fazenda] é o plantio direto, a gente mantém a palha de uma cultura para outra sem revolver muito o solo. A gente faz questão de manter a nossa mata sempre protegida, as nossas áreas de preservação permanente em volta da represa, que está muito bem conservada também, e, no meu caso, a interação de agricultura com pecuária, que se complementam muito nessa parte também”, explica Doneux.
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Desenvolvimento social
Desde a fundação das cooperativas, as questões sociais estão intrínsecas a esse modelo de negócios, que nasceu em 1844 junto com a revolução industrial para melhorar as condições de trabalho de 28 tecelões ingleses. Eles reuniam o que tinham para vender em conjunto com a intenção de fortalecer o poder de negociação dos trabalhadores e, assim, conseguir reduzir as jornadas exaustivas de trabalho e melhorar as remunerações.
“Cooperativa normalmente é uma empresa que está acostumada a se preocupar não só com seu negócio, mas também com o seu entorno, com as questões sociais, por exemplo, do ESG. A cooperativa, normalmente, no entorno da cooperativa existem outros negócios como igreja, supermercado, posto de gasolina, concessionárias. E assim a cooperativa ajuda a fomentar a sociedade ao seu entorno e isso é um modelo que a gente encontra no cooperativismo em todo o Brasil. Então, por si só, pelo seu propósito intrínseco, a cooperativa já é uma empresa, já é um negócio preocupado com o social e tem dentro do seu regulamento recursos que são destinados à educação, a treinamentos, a capacitação de pessoas”, afirma Shandrus Hohne de Carvalho, que é CEO da Cooperativa Holambra.
Em participação no Planeta Campo, o comentarista José Luiz Tejon também falou a natureza social do cooperativismo. “Onde você vê uma boa cooperativa, você vê qualidade de vida, você vê desenvolvimento humano, você vê meio ambiente, você vê o Índice de Desenvolvimento, o IDH, melhor”, afirmou ele.
Em todo o Brasil, em 2020 haviam 1.173 cooperativas do agronegócio. Juntas, elas contam com mais de 1 milhão de cooperados e 223 mil funcionários. “A cooperativa tem um papel fundamental de aglomerar, aglutinar os cooperados, os pequenos produtores, enfim, para um estrutura onde a cooperativa investe, capacita e oferece os recursos necessários para que de um lado ele possa aprender, desenvolver tecnologia e inovação no campo, bem como as melhores práticas no campo, e também fazer com que o negócio dele seja comercializado, seja desenvolvido”, explica Shandrus.
Esse aspecto educativo das cooperativas também foi citado por Tejon. “Uma casa cooperativa é fundamentalmente uma casa de educação (…), é um casa de visão, de planejamento estratégico de longo prazo. Quando você reúne educação com longo prazo e dentro da educação os fundamentos do estado da arte, da ciência, da tecnologia, você é praticamente, assim, obrigado a cuidar de todos. Então a prosperidade que a cooperativa cria não é só para alguns, não é só para um percentual, para aqueles mais capazes ou para aqueles que têm maior vocação, ou seja, aqueles 10%, 11% ou 12%. Uma casa cooperativista tem a missão de fazer com que todo mundo prospere. Então essa função educativa da cooperativa age sobre a alma humana, sobre o espírito humano, ou seja, praticamente criando um ambiente em que todo mundo é convocado a evoluir. Eu não posso deixar cooperado para trás, eu tenho que fazer com que os meus cooperadas progridam, e mais, criem sucessores. Então é um sistema de capitalismo consciente, humano, extraordinário. Ele reúne o melhor do aspecto humano com o melhor do lado capitalista”, acredita.
Além do desenvolvimento social e econômico da comunidade, a Cooperativa Holambra também carrega uma cultura de preservação ambiental herdada de seus fundadores holandeses. “Essas boas práticas da cultura holandesa, que era uma cultura bem preservacionista, eu acho que realmente faz parte do processo e as pessoas têm esse discernimento, não só de sustentabilidade, mas de ter seus funcionários com bom padrão de vida, respeitar a parte de lixo, manter tudo em ordem e devolver as embalagens vazias dos produtos que nós usamos. É um complexo, não é só uma ação sustentável. É um bloco de ações em conjunto que fazem com que a produção chegue limpa nos portos e vá para os consumidores”, afirma o produtor rural Luiz Fernando Doneux.