Novas regras ambientais da UE impactarão exportações brasileiras de commodities agrícolas, aponta consultoria
O BCG aponta duas medidas que terão impacto mais significativo no país, sendo o Mecanismo de Fronteira para Ajuste de Carbono (CBAM, na sigla em inglês) e a Regulação de Desmatamento da UE (EUDR)
Uma análise recente conduzida pelo Boston Consulting Group (BCG) demonstra como as novas regulamentações ambientais da União Europeia podem causar uma transformação substancial no cenário do comércio global.
Esse impacto deve atingir grande parte dos setores exportadores, principalmente em mercados emergentes, como o Brasil – na exportação de commodities agrícolas e industriais.
O BCG aponta duas medidas que terão impacto mais significativo no país, que são o Mecanismo de Fronteira para Ajuste de Carbono (CBAM, na sigla em inglês) e a Regulação de Desmatamento da UE (EUDR).
O primeiro envolve uma taxa sobre as emissões de CO₂ associadas a algumas commodities industriais importadas por países europeus, como aço, alumínio e produtos químicos.
A medida entra em vigor a partir de 2026, sendo que o período de transição já começou, e importadores da EU já têm de reportar o total de emissões de carbono embutidas em seus produtos.
Já a EUDR, proíbe a comercialização de commodities que vêm de áreas de desmatamento, visando reduzir seu consumo no mercado da União Europeia. Commodities como cacau, café, óleo de palma e madeira só poderão ser comercializadas se forem provenientes de solo não desmatado (legal ou ilegalmente), ou que não tenham induzido a degradação florestal após 31 de dezembro de 2020, o que afetará setores de exportação importantes na África, Sudeste Asiático e na América Latina.
“A UE é um dos maiores importadores de produtos do agronegócio brasileiro, incluindo soja e café. Para minimizar as perdas, os exportadores precisam investir mais em sistemas de rastreabilidade, transparência e processos que permitam atender às certificações exigidas. Já vemos uma evolução neste sentido, mas é importante que o mercado siga progredindo em relação a práticas de controles e procedimentos, gestão de riscos e compliance”, afirma Arthur Ramos, diretor-executivo e sócio do BCG.
Um dos desafios que as empresas brasileiras enfrentarão por conta das regulações europeias, principalmente referente ao desmatamento, é garantir a rastreabilidade de ponta a ponta, em especial para a carne bovina (do criador ao importador).
“Garantir a procedência e ter a visão completa da cadeia de valor ainda não é uma realidade, e requer investimentos relevantes. Ainda há uma grande complexidade para execução, devido a um território com dimensões continentais como o do Brasil”, diz Arthur. A padronização é outro obstáculo, por conta da falta de uniformidade nas exigências de emissões entre países europeus, Brasil e outros destinos.
O poder de demonstrar a sustentabilidade
Apesar disso, as pesquisas do BCG mostram que grandes empresas de mercados emergentes que lideram a jornada da sustentabilidade climática geram retornos totais aos acionistas (TSR) 105% superiores ao Índice MSCI de Mercados Emergentes de 2017 a 2022.
Empresas que atendem a padrões elevados de conformidade com metas climáticas também desfrutam de maior acesso a capital de investimento e atraem mais talentos, além de terem mais oportunidades para mudar a dinâmica em seus setores com modelos de negócios voltados à sustentabilidade.
Além disso, empresas em mercados em desenvolvimento ainda têm tempo para adotar as medidas necessárias para continuarem competitivas na União Europeia.
É importante que as organizações se preparem para atingir padrões de sustentabilidade em diversas dimensões, como mapear a relevância das regulamentações para os negócios, identificar lacunas em medição, reporte e capacidade da empresa em oferecer produtos de baixo carbono, e desenvolver um mapa de todas as operações para a transformação de sustentabilidade, identificando as ações que irão melhorar o desempenho nos quesitos socioambientais.
“Desde 2015 vemos a proliferação de novas regulamentações climáticas no mercado global, e a tendência é que as exigências fiquem cada vez maiores para exportações. Entrar em conformidade com essas novas regras é possível, e estar na vanguarda do movimento sustentável pode criar vantagens competitivas a longo prazo”, finaliza Arthur.