Preservação da onça-pintada e produção pecuária crescem juntas no Pantanal

Projeto Felinos Pantaneiros oferece suporte aos produtores pecuaristas no Pantanal

A onça-pintada é o maior felino das Américas e atualmente está em vulnerabilidade ambiental, com risco de extinção em biomas como a Caatinga. O animal carnívoro pode chegar a 135 kg e 75 cm de altura e é um importante predador silvestre, mas que eventualmente matam também animais domésticos ou de criação.

No Pantanal, maior planície alagada do mundo, a preocupação com a predação de gados deu origem ao projeto Felinos Pantaneiros, liderado pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP). A organização com sede em corumbá (MS) atua em diferentes regiões do pantana e está recebendo aporte financeiro da iniciativa privada para expansão.

Heitor Herreira é produtor rural no município de Nhecolândia, onde cria 6 mil cabeças de gado na Fazenda Alegria. As criações são feitas em cima das pastagens nativas, de forma extensiva. A estimativa de perda de gado por ataque de felinos na área é de cerca de 30 bezerros por ano.

Para uma convivência harmoniosa, aliando proteção do rebanho e manutenção da vida felina, o IHP oferece ao pecuarista uma equipe multidisciplinar para quantificar as perdas e conscientizar a comunidade local da importância da preservação.

Resgate histórico de estratégias de manejo

Na prática, podem ser adotadas algumas estratégias para isso. O médico veterinário Diego Viana é coordenador do projeto e explica que por meio do manejo do gado é possível evitar uma série de perdas. “É indicado retirar os bezerros de áreas vulneráveis, de regiões onde existe a exposição a áreas grandes de mata e tirar as maternidades de locais próximos as águas”, orienta.

O uso da cerca elétrica com um layout e altura diferentes, voltados a inibir os felinos, é uma estratégia que pode ser adotada pelo pecuarista. “O primeiro fio deve ser a 20cm, eletrificado. O segundo não eletrificado a 40 cm, o terceiro eletrificado a 60cm e mais um a 80 cm, sempre com tensão elétrica superior a 5 mil volts. Isso tem uma eficácia muito grande”, explica Viana.

O repelente luminoso é mais uma forma de proteger o rebanho e tem ganho espaço nas fazendas pantaneiras. “É uma estrutura pequena, com a placa solar e com LEDs que piscam com cores e velocidades diferentes.”

A produção pantaneira

O pantanal é um exemplo histórico da convivência harmoniosa entre natureza e criação pecuária. Predomina na região a cria de gado de corte de forma extensiva, com cria e recria e engorda em áreas com melhores pastagens. A criação é fortemente influenciada pelo bioma e a sazonalidade das águas, por isso é o comum do rebanho.

A onça já foi considerado um animal nocivo para o homem, explica Eduardo Cruzetta, presidente da  Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável. Para os pequenos produtores da região a perda era sentida de forma mais evidente, pois tinha mais impacto financeiro.

Ângelo Rabelo, presidente do IHP conta que nos últimos 20 anos isso tem mudado, e o objetivo do Instituto é reforçar as práticas de proteção para o rebanho e manter a preservação do fauna e flora do Pantanal. “É essencial os investimentos que estamos recebendo, como novas caminhonetes que possibilitam a gente chegar em mais lugares e apoiar mais produtores”, fala Rabelo.

“São mais de 200 anos de produção e, ao mesmo tempo, temos hoje uma das maiores populações de onça-pintada e parda de todo o mundo. Nós já somos um exemplo de que é possível coexistir produção e conservação. Agora, estamos no passo de valorizar isso e gerar um aditivo no valor da carne sustentável do pantanal”, comenta o veterinário Diego Viana.