Os remineralizadores, conhecidos como pó de rocha, vêm ganhando destaque na agricultura brasileira. Eles não só substituem o calcário em diversas culturas, como também corrigem a acidez do solo, aumentam sua fertilidade e promovem a captura permanente de carbono — tudo isso com menor impacto ambiental.
O agrônomo Renato Rodriguez, da Terra Dot, que acompanha de perto a aplicação dos remineralizadores em diferentes regiões do país, como no Mato Grosso do Sul, destacou o potencial desses produtos no quadro Palavra de Especialista: “Para solos mais ácidos, ele é uma solução muito interessante.”
No campo onde, em breve, será cultivado arroz inundado, mesmo sob sol forte e com o solo ainda seco, Rodriguez chama atenção para a versatilidade dos remineralizadores. Eles elevam o pH do solo, criando um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das plantas.
Além da ação corretiva, os remineralizadores promovem diversos ganhos agronômicos. Ao melhorar a microbiologia do solo, fortalecem a biodiversidade e reduzem a incidência de pragas, o que pode resultar na diminuição do uso de inseticidas.
“Já observamos várias situações em que o uso do pó de rocha reduziu a necessidade de defensivos químicos e ainda trouxe aumento de produtividade”, ressalta o especialista.
Financiamento no Plano Safra
Outro ponto de destaque é a possibilidade de financiamento. Com o anúncio recente do Plano Safra, os produtores agora têm acesso a uma linha de crédito específica para a compra de remineralizadores, com taxa de juros reduzida. Isso facilita a adoção da tecnologia por agricultores de diferentes portes e amplia o acesso aos benefícios ambientais e produtivos do produto.
“Uma coisa muito interessante do pó de rocha é que ele possibilita a remoção permanente do CO₂. Na Terra Dot, trabalhamos exatamente com essa metodologia, aplicando o produto em altas concentrações, cerca de 25 toneladas por hectare, para promover essa remoção permanente do carbono,” explica Rodriguez.
Segundo o especialista, esse bicarbonato permanece na água, podendo seguir até lençóis freáticos, córregos e rios, e, eventualmente, ser transportado até os oceanos. Lá, ele pode se transformar em estruturas como conchas, permanecendo estável por milhões de anos.
Essa transformação representa uma forma de sequestro de carbono considerada permanente. Ao contrário do carbono orgânico, gerado por práticas como a integração lavoura-pecuária e que eventualmente retorna à atmosfera, o carbono inorgânico formado com o uso dos remineralizadores permanece fora do ciclo atmosférico por muito mais tempo.
Rodrigues reforça que isso coloca os remineralizadores como uma das alternativas mais promissoras na agricultura regenerativa, alinhando alta produtividade com práticas sustentáveis. “A gente está falando de um sistema que é mais eficiente, mais rentável e mais sustentável. É bom pro solo, pro produtor e pro planeta”, afirma.
Crédito de Carbono
Além de todos esses ganhos, a tecnologia pode ainda contribuir para a geração de créditos de carbono com alto valor de mercado, justamente por se tratar de uma remoção permanente de CO2. Isso pode abrir novas fontes de receita para o produtor rural, ao mesmo tempo em que fortalece práticas de manejo mais responsáveis e duradouras.
A aplicação dos remineralizadores, portanto, vai muito além da simples substituição do calcário. Trata-se de uma estratégia integrada, que melhora a estrutura e a fertilidade do solo, reduz a dependência de insumos químicos, aumenta a produtividade das lavouras e atua diretamente na mitigação das mudanças climáticas.
Com o apoio de políticas públicas e o avanço das pesquisas em campo, o uso do pó de rocha tende a crescer nos próximos anos, consolidando-se como uma ferramenta importante na construção de uma agricultura mais resiliente, eficiente e alinhada com os desafios ambientais da atualidade, destaca Rodriguez.
