Tecnologia é essencial para criar o agro do futuro: sustentável, inclusivo e produtivo
A tecnologia desponta como a principal força motriz para que seja possível a adaptabilidade a modelos climáticos para o agro e a inserção de formatos produtivos sustentáveis no setor
Os desafios do século para a produção agropecuária são o clima e as mudanças climáticas, fatores diretamente influenciados pela forma como os recursos naturais do planeta são administrados: de forma sustentável ou exploratória.
A tecnologia desponta como a principal força motriz para que seja possível a adaptabilidade a modelos climáticos para o agro e a inserção de formatos produtivos sustentáveis no setor.
Desde grandes máquinas com tecnologias de ponta até a distribuição de rede de internet no meio rural, está a tecnologia. A novidade, agora, é torná-la simples e colocada em soluções acessíveis, que possibilitem a inclusão do pequeno e médio produtor rural.
Acesso ao crédito com ajuda que vem do espaço
O grande produtor tem acesso a um aparato tecnológico que o ajuda lidar com os impactos do clima, mesmo que a imprevisibilidade climática ainda assim lhe cause grandes estragos. Já o pequeno produtor, por outro lado, está totalmente refém dessa situação e o setor financeiro tem conhecimento disso. Diante disso, o Banco Central investiu em um programa para gerir as formas de acesso à crédito ciente dos desafios ambientais enfrentados pelo agronegócio.
A lógica que interliga o Banco Central, sustentabilidade e geotecnologia é a seguinte: a missão do BC é assegurar a estabilidade de preços, zelar pela estabilidade e eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações da atividade econômica e fomentar o pleno emprego. Quando ocorrem, por exemplo, choques climáticos e ambientais os preços relativos são afetados e isso impacta a missão dos bancos centrais de manter a inflação baixa e o sistema financeiro sólido.
Para controlar isso, a tecnologia geoespacial está sendo usada pelo Banco Central para monitorar coordenadas geodésicas, conformidade ambiental, realizar o monitoramento e validação de informações em tempo real.
O acesso a linhas de créditos é facilitado a propriedades que fazem uso adequado do solo, estão em conformidade com o CAR, possui unidade de conservação e não se encontra em terra quilombolas, indígenas, entre outros impedimentos. Tudo isso, verificado com auxílio de acompanhamentos feitos por satélites.
“O Bureau de crédito rural sustentável busca definir critérios de sustentabilidade aplicáveis às concessões de crédito rural, o que permitirá caracterizar as operações de crédito rural com adicionalidades sociais, ambientais e climáticas” explica Claudio Filgueiras, chefe de departamento do Banco Central.
Tecnologia para o pequeno produtor
O pequeno e médio produtor estava distante de ter acesso a uma estrutura tecnológica. No último ano, porém, ela está chegando de uma maneira simples. Isso muda tudo de figura, pois possibilita ao pequeno mais chances de uma produção segura, de previsibilidade e acesso a créditos.
Uma novidade nesses moldes, que inaugura uma nova corrida tecnológica, é o ChatGPT. De acordo com o CEO da Agrotools, Sergio Rocha, de uma maneira simples e rápida, o pequeno produtor vai conseguir mandar uma mensagem e obter uma resposta ao adequada ao que ele precisa. “Por isso, com a tecnologia ele vai conseguir ter uma sustentabilidade econômica, que permite investir em sustentabilidade ambiental”, explica.
Uma empresa que tem desenvolvido formas de levar a tecnologia de maneira simplificada ao produtor é a Agrotools. Criada há 16 anos, a empresa inventou um modelo chamado identidade geográfica, em que é possível fazer o acompanhamento do processo produtivo pelo território.
“Somos essencialmente uma empresa de soluções em grande escala. Mas isso acabou se tornando uma peneira de muitos dos pequenos, infelizmente. Muitas vezes ele não tinha a informação correta e acabava tomando atitudes que não condiziam mais com as políticas das grandes empresas, que são os compradores”, explica o CEO da Agrotools.
Contudo, um problema reside exatamente onde a tecnologia deles não chegava: no pequeno produtor, o fornecedor indireto da pecuária, que produz os bezerros. Cobrança até mesmo do Pacto Verde Europeu: rastreabilidade de toda a cadeia produtiva, inclusive de indiretos, e desmatamento zero.
“Socialmente, isso significava uma exclusão da agropecuária de subsistência, ao mesmo tempo que criava um mercado marginalizado”, analisa Sérgio.
Para corrigir essa brecha, foi desenvolvido o Programa de Reinserção e Monitoramento (PREM), uma plataforma virtual de geomonitoramento desenvolvida pela Agrotools ao Imac. O PREM tem como objetivo monitorar a regeneração ambiental de áreas desmatadas de propriedades rurais bloqueadas para o comércio com os frigoríficos que firmaram o Termo de Ajustamento de Conduta – TAC com o Ministério Público Federal – MPF.
“O projeto só foi possível graças à coragem do Instituto Mato-grossense da Carne e dos procuradores de MT, que entenderam que a tecnologia pode ser um processo que viabilizava pelo custo relacional. Para acompanhar as pequenas propriedades, especialmente num estado grande como Mato Grosso, o custo de deslocamento era alto. Conseguimos a aprovação de uma modelagem tecnológica para dar um caminho de volta que fosse viável economicamente”, conta Sergio Rocha.
Apenas com o uso de um smartphone, o produtor dá início ao seu processo de adequação ambiental se reinsere no mercado formal pecuário, desde que se comprometa a isolar a área desflorestada sem autorização dos órgãos competentes, devendo suspender as atividades sobre essa área que foi desmatada irregularmente após 22 de julho de 2008.
“Este é o primeiro projeto que diz que se ele errou, tem o caminho de volta. Por meio do PREM vemos claramente a importância da tecnologia. Ela é fundamental para alimentar o planeta e garantir a segurança alimentar”, analisa Caio Penido, presidente do IMAC.