Financiamento climático não avança e frustra negociações
Ministro do Meio Ambiente critica condução do Egito. Brasil aposta em energia limpa: em 4 anos país instalou uma Itaipu fotovoltaica.
“Infelizmente não chegamos a um resultado esperado em relação ao financiamento climático.” A afirmação é do ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite em um balanço da COP27 feito hoje (18) em Sharm el Sheikh, no Egito, onde desde o dia 06 de novembro é realizada a Conferência das Nação Unidas para as Mudanças Climáticas.
Ele explicou que o Brasil trabalhou articulado com outros países para que as nações desenvolvidas e grandes poluidoras não apenas se comprometam, como fizeram em ocasiões anteriores, mas efetivamente possam destinar recursos de forma eficiente, em volume relevantes para os países em desenvolvimento como o Brasil.
Articulação com G77
“O Brasil pressionou junto com o G77 mais china para que saísse. Mas até o momento não temos notícias de que vai sair o fundo de perdas e danos.” Segundo o ministro, que é chefe da delegação brasileira na COP27, esse desafio ainda está de pé.
Joaquim Leite criticou a postura do Egito nesse tema. “A negociação realizada pelo Egito parece que não teve uma boa condução na articulação junto a outros países.” Como anfitrião do evento, o Egito divide a presidência da COP com o secretário-geral das Nações Unidas.
O G77 é uma organização intergovernamental que reúne a maioria dos países em desenvolvimento do Hemisfério Sul.
Próximos passos
Sobre os próximos passos, o ministro destacou que primeiramente é preciso estruturar de fato o mercado de carbono. Essa é a uma forma para acelerar os projetos verdes, da indústria à agricultura de baixa emissão e às energias renováveis.
Outro avanço considerado estratégico está na geração de energia alternativa. Em quatro anos, afirmou o ministro, foi instalada no Brasil uma Itaipu de energia solar.
A aposta agora cresce também no potencial da energia eólica. No caso da fotovoltaica, muitas dessas áreas de geração estão com o produtor rural, que tem um gigantesco potencial para se beneficiar das três matrizes: solar, eólica e biomassa.
Crédito de Carbono
Na COP26, via decreto, o Brasil foi protagonista em criar o mercado nacional de carbono. Já na COP27, segundo o ministro, “começamos a negociar carbono com Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes”.
A aproximação com esses países mostra que os acordos bilaterais são mais rápidos e efetivos que as negociações globais. Em sua opinião, as negociações com base no Artigo 6 do Acordo de Paris são de difícil consenso, a considerar os 194 países signatários.
“Têm países querendo comprar e outros vender, cada um com uma realidade diferente em relação ao carbono. Quais seriam os critérios mínimos, o que seria a central para registrar carbono equivalente?”, indagou o ministro.
“são vários desafios que caminharam nessa COP, mas que vão se estruturar de forma mais lenta. E talvez com os acordos bilaterais consigamos acelerar esse processo”, acredita o ministro.
Marco do metano
Na avaliação do ministro, outro potencial do Brasil que também foi mostrado na COP é o do mercado do metano, que trata resíduos do lixo, da suinocultura, avicultura e da cana-de-açúcar.
“O produtor rural pode transformar um passivo ambiental em biogás, biomassa e biofertilizantes gerando crédito de metano”.
Na tarde desta sexta-feira (18), o ministério do Meio Ambiente lança na COP a proposta criando um mercado com a mesma proposta do mercado de carbono, mas específico para o metano.
É uma forma para acelerar esses projetos e outros que ainda não tem viabilidade econômica, disse Joaquim Leite.
Florestas tropicais
Entres os avanços na Conferência, o ministro citou o acordo firmado com Congo, Indonésia e Brasil, grupo que detém a maior quantidade de florestas tropicais do mundo.
Lembro que ainda este ano, em Bali, o Brasil discutiu todo um marco legal de floresta nativa, do PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) ao crédito de carbono. De acordo com Joaquim Leite, o próximo passo é reconhecer e remunerar quem cuida de florestas.
“Em Sharm el Sheikh o Brasil anunciou e acelerou esse acordo, um marco da floresta nativa.”
Energia eólica
Entre os destaque no pavilhão do governo brasileiro, estava o potencial do país na geração de energia limpa.
Joaquim Leite falou da oportunidade do Brasil na eólica off-shore, que são as usinas eólicas no mar.
“Podemos gerar 700 gigawatts, volume relevante, mas o custo ainda é caro.” O caminho, mais uma vez, disse, seria adicionar crédito com receita extraordinária de carbono para isso acontecer mais rápido.
O Planeta Campo e o Canal Rural estão realizando a cobertura completa da COP27 com apoio da JBS, UPL e SLC Agrícola.
*Giovani Ferreira, enviado especial à COP27 no Egito