Confira seis tendências para o agro responsável em 2023
Aline Locks, CEO Produzindo Certo, concedeu uma entrevista ao Planeta Campo e explanou algumas das principais tendências
Política, economia, clima, tecnologia. Além dos insumos usados no campo, há muitos outros fatores externos a influenciar as decisões de quem produz. A cada ano, a cada safra, desenhar cenários, acompanhar a evolução dos mercados e pesquisar avanços que possam ser incorporados às boas práticas agropecuárias torna-se mais importante para que procura produzir de forma responsável.
A despeito de dúvidas que pairam no ar, é possível destacar uma série de tendências que podem nortear decisões e trazer benefícios ao produtor rural responsável em 2023 e nos anos seguintes. Aline Locks, CEO Produzindo Certo, concedeu uma entrevista ao Planeta Campo e explanou algumas das principais tendências para uma agropecuária responsável em 2023.
Confira seis delas:
Recuperação de áreas degradadas
Prática crescente no campo, é apontada como a melhor solução para o aumento da produção sem a necessidade de avanço sobre áreas com vegetação nativa.
Não por acaso, foi um dos primeiros pontos de atenção do novo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que em seu discurso de posse anunciou que o governo estuda maneiras de financiar, com recursos do BNDES, produtores dispostos a restaurar pastagens hoje quase improdutivas.
Segundo afirmou Fávaro ainda antes de sua nomeação, a ideia seria incorporar, a cada ano, “cerca de 5% da área degradada do Brasil”, estimada por ele em até 40 milhões de hectares.
Valor para a floresta em pé
Uma medida provisória editada na última semana do governo anterior abriu uma nova frente para a valorização da produção combinada com a preservação da vegetação nativa.
Além de abrir a possibilidade da geração de créditos de carbono dentro dos contratos de concessão de florestas públicas, a MP nº 1.151/2022 garante o reconhecimento dos ativos ambientais de vegetação nativa nas propriedades privadas.
Assim, propicia a valoração econômica e monetária das florestas preservadas e sua identificação patrimonial e contábil. Com isso, produtores rurais ganham um incentivo importante para manterem suas reservas intactas, reduzindo a pressão por novos desmatamentos, além de poderem incluir essas áreas como garantias em contratos de crédito, por exemplo.
Agricultura circular
O reaproveitamento dos resíduos da produção agropecuária também tem se disseminado em muitas propriedades.
Pesquisadores como o ex-presidente da Embrapa, Maurício Lopes, apontam que esse conceito pode ser ampliado com a incorporações de ideias da economia circular já utilizada em algumas indústrias.
A biomassa oriunda da agricultura, por exemplo, “já pode ser transformada para produzir insumos e matérias-primas de base biológica, como bioenergia, biofertilizantes, biodefensivos, bioaditivos, compostos bioativos, etc”.
Dessa forma o setor reduziria sua dependência de insumos externos, “permitindo o fechamento dos ciclos de nutrientes e reduzindo descargas de resíduos e emissões para o meio ambiente, recuperando balanços críticos perdidos com a economia convencional”.
Bioinsumos
Preços em alta, irregularidade no fornecimento, emissões de gases de efeito estufa. A indústria de insumos agrícolas sofreu vários baques nos últimos anos, o que ajudou a acelerar a busca de alternativas e, consequentemente, o interesse pelos bioinsumos.
Com impacto positivo na redução da pegada de carbono das propriedades e na recuperação orgânica dos solos, devem estar cada vez mais presentes. Grandes companhias do mundo agro multiplicaram suas apostas nessa área e devem investir ainda mais.
ClimateTech
A tecnologia a favor do clima: Ainda vivemos o período de consolidação das agtechs (empresas de tecnologia com foco no agronegócio) e das agfintechs (startups voltadas para transformar as finanças do agro), mas já temos de nos acostumar a ouvir falar das ClimateTechs.
O novo conceito favorito dos investidores de risco abrange as empresas que oferecem soluções tecnológicas para os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Como não podia deixar de ser, várias delas têm foco nos sistemas de produção de alimentos, ou seja, no agronegócio. Nos Estados Unidos, atualmente, as climatetechs são responsáveis pela maior migração de talentos na área tecnológica.
Democratização da assistência técnica
A revolução necessária para a produção responsável exige compartilhamento de conhecimento. Não se faz a transformação de modelos produtivos sem a adoção de boas práticas, com orientação e acompanhamento de profissionais capacitados.
Para que todos os tópicos anteriores se realizem é preciso profissionais com qualificação e, hoje, esse é um gargalo a ser enfrentado. A Produzindo Certo, por exemplo, desenvolveu ferramentas educativas e tecnológicas apara qualificar, gratuitamente, extensionistas rurais interessados em atuar na assistência técnica em sustentabilidade para fazendas em diferentes regiões do Brasil.