Biochar: “esponja de carbono” vira dinheiro para agricultores

O biochar ainda pode diminuir em 40% das emissões de gases de efeito estufa por quilo do grão

Biochar: “esponja de carbono” vira dinheiro para agricultores

Desde abril, o Brasil passou a contar com um novo aliado na agricultura sustentável: é o biochar, um condicionador do solo que atua como uma “esponja de carbono”. Ele ajuda na retenção de água e nutrientes de terras agrícolas, contribuindo também para a remoção de carbono da atmosfera. Quem o produz é a NetZero, startup francesa que inaugurou sua fábrica em Lajinha (MG), a primeira da América Latina a produzir biochar em larga escala a partir de resíduos agrícolas.

O biochar é um produto sólido que se assemelha ao pó de carvão. É obtido por meio da extração do carbono contido nos resíduos vegetais, utilizando o processo de pirólise (aquecimento à alta temperatura na ausência de oxigênio). No caso da NetZero, a matéria-prima é, neste momento, a palha do café.

A tecnologia estabiliza de forma duradoura o carbono inicialmente capturado pelas plantas na atmosfera durante a fotossíntese. Este carbono estável é colocado no solo para armazená-lo longe da atmosfera, e ao fazê-lo também melhora a fertilidade do solo. Ambos os benefícios foram reconhecidos extensivamente e são validados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Biochar: aliado do meio ambiente

Na produção de café, fertilizantes são responsáveis por mais de dois terços das emissões de CO2. Com o uso do biochar, que basta ser aplicado uma única vez no solo, é possível reduzir em 33% a aplicação dos adubos e, ainda assim, aumentar em 14% a produtividade média. Esse movimento conjunto pode diminuir em 40% as emissões por quilo do grão. Isso tudo porque o biochar comporta-se no solo como uma esponja que retém água e nutrientes, reduzindo, assim, de forma durável, a necessidade de fertilizantes, ao mesmo tempo que aumenta a produtividade das culturas e armazena carbono estável longe da atmosfera.

“A aplicação do biochar não requer nenhuma técnica diferente daquelas já utilizadas atualmente na agricultura. Para utilizá-lo, basta misturá-lo de forma homogênea ao solo em covas, sulcos ou faixas de plantio, na proporção indicada por um profissional de agronomia. Por ser feito unicamente à base da própria biomassa gerada na lavoura, o biochar não é um produto tóxico, não traz riscos ao meio ambiente e sua aplicação é segura para a saúde humana e animal”, afirma Pedro de Figueiredo, cofundador da NetZero e CEO da NetZero Brasil.

Em Lajinha (MG), a fábrica da NetZero tem capacidade para produzir mais de 4.500 toneladas de biochar por ano, o que significa remover anualmente mais de 6.500 toneladas de CO2 equivalente da atmosfera – isso sem contar as emissões evitadas ligadas ao menor uso de fertilizantes químicos. Este projeto é possível em razão da parceria com a Coocafé, uma cooperativa que reúne mais de 10 mil cafeicultores.

Uma parte desses agricultores irá fornecer milhares de toneladas de resíduos não utilizados provenientes do processo de envelhecimento do café. Por isso, a NetZero vai transformá-los em biochar. Estes mesmos agricultores utilizarão então o biochar nos seus campos para melhorar a produtividade das culturas e reduzir a utilização de fertilizantes, ao mesmo tempo que ajudam na remoção do carbono.

A fábrica no Brasil – a maior do mundo produzindo biochar a partir de resíduos agrícolas – confirma a dinâmica sustentada da NetZero desde a sua fundação, em 2021. Depois de operar com sucesso na fábrica-piloto em Camarões em 2022, a operação de Lajinha é a primeira instalação comercial da NetZero, com grandes melhorias de hardware e software. Mostra o potencial de replicabilidade do modelo NetZero e confirma a relevância do biochar para os agricultores.