Fim de semana marcado por protestos e apelo ao fim da guerra contra a natureza

45 governantes prometeram ação urgente e investimentos para proteger a natureza e transformar a produção agrícola em mais sustentável.

Fim de semana marcado por protestos e apelo ao fim da guerra contra a natureza

Milhões de pessoas foram às ruas em várias cidades do mundo neste sábado, exigindo maior ação climática, enquanto países que participam das negociações da COP26 prometeram investir em soluções mais verdes na agricultura.

Na Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP26, que acontece em Glasgow, Escócia, a Mãe Natureza, ou “Pachamama”, como dizem alguns povos nativos da América Latina, foi o destaque principal deste sábado. 

A natureza é crítica para a nossa sobreviência: fornece oxigênio essencial, regula o clima, fornece alimentos e água para todos os seres vivos e é habitat de inúmeras espécies da vida animal. 

Guerra com a natureza 

De acordo com o Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, a atividade humana já prejudicou 75% da superfície terrestre e colocou 1 milhão de espécies de animais e de plantas na lista de espécies em perigo.

A superexploração dos recursos naturais, as florestas desmatadas para uso agrícola e criação de gado e o impacto da mudança climática vem aumentando a erosão e a desertificação. 

Para o secretário-geral da ONU, está claro que a humanidade está “em guerra com a natureza”. 

Já a diretora-executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, afirma que quando o homem atrapalha a Mãe Natureza, ela nos manda uma conta para pagar, em forma de tempestades intensas, incêndios, ondas de calor e secas. 

Redefinir a relação 

Inger Andersen está em Glasgow e falou com a ONU News neste sábado, durante a COP26. Ela está pedindo mais união e cooperação para que sejam encontradas as soluções necessárias para restaurar a natureza e tratar do problema da mudança climática. 

Para a chefe do Pnuma, “as transformações socioeconômicas necessárias só irão acontecer quando redefinirmos nossa relação com a natureza, entendendo que não podemos mais inventir naquilo que prejudica o planeta.”

Andersen destaca que “existem 2 bilhões de hectares de terras degradadas e todas as pessoas precisam comer. Então é preciso decidir se vamos continuar destruindo florestas virgens ou se vamos restaurar essas terras”. 

Poder dos povos nativos 

E ninguém sabe melhor como proteger a natureza do que os povos indígenas, que estão muito ativos dentro e fora da COP26 em Glasgow, trabalhando para influenciar as negociações de todas as maneiras possíveis, inclusive com protestos nas ruas. 

O advogado e ativista pelos direitos das terras indígenas Eloy Terena foi do Brasil até Glasgow e explicou à ONU News porque é crucial incluir os povos nativos nas negociações:

“Nós viemos trazer uma mensagem muito clara, de que não é possível pensar no enfrentamento da crise climática sem dialogar com os povos indígenas e sem pensar na proteção desses territórios. Porque os nossos territórios, sem dúvida, cumprem um papel fundamental no equilíbrio climático.”

A ONU News também conversou com a ex-relatora especial da ONU sobre Direitos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz. Ela lembra que as comunidades indígenas são as grandes especialistas em viver em harmonia com a natureza, e que seus territórios contêm 80% de toda a biodiversidade mundial. 

Soluções baseadas na natureza 

Tauli-Corpuz destacou que os povos nativos utilizam a natureza para resolver problemas de segurança alimentar e de acesso à água, mas sem destruir a natureza, por isso eles têm tanto a compartilhar com o mundo. A especialista pediu que os governos parem de criminalizar os indígenas e que trabalhem para proteger seus territórios. 

Segundo Tauli-Corpuz, os representantes indígenas que estão na COP26 têm a estratégia de influenciar decisões que serão tomadas no final na semana, incluindo o Artigo 6 do Acordo de Paris, que estabelecerá regras para os mercados de carbono e outras formas de cooperação internacional. A meta é conseguir com que esses mecanismos não violem os direitos dos povos indígenas. 

Apesar das comunidades ancestrais praticamente não contribuírem com a mudança climática, elas têm sido uma das vítimas mais vulneráveis do problema. Daniela Balaguera vem da comunidade indígena de Arhuaco, no norte da Colômbia. Sua tribo vive na Serra Nevada de Santa Marta, uma montanha isolada separada dos Andes, que atravessa o centro do país e serve de fonte para os cursos de 36 diferentes rios.  

Manifestações 

Segundo ela, os territórios do seu povo “deveriam ser sagrados, para conservação ambiental, mas não estão sendo tratados dessa maneira”. A ativista indígena explica que se como áreas protegidas, “deveriam ter garantias e direitos que já foram reconhecidos, mas não foram colocados em prática”. 

Para Balaguera e outros indígenas que estão na COP26, a mudança climática é uma questão de vida ou morte. As preocupações dela ecoaram nas ruas de Glasgow neste sábado, e também em outras cidades do mundo, como Londres e Paris, com ativistas de várias idades promovendo o Dia Global de Ação.

Enquanto isso, na COP26, 45 governos prometeram ação urgente e investimentos para proteger a natureza e transformar a produção agrícola, para que seja mais sustentável.

O compromisso envolve reformas políticas, além de pesquisa e inovação para reduzir emissões e proteger a natureza. Serão investidos US$ 4 bilhões em inovação agrícola, incluindo o desenvolvimento de safras resilientes ao clima e soluções para melhorar a saúde do solo, garantindo que essas técnicas estejam acessíveis a milhões de agricultores. 

Aproximadamente um quarto das emissões de gases do mundo saem da agricultura, das florestas e do uso da terra. O presidente da COP26, Alok Sharma, anunciou neste sábado que 130 países já assinaram a Declaração de Glasgow pelas Florestas e que em uma semana de encontro, já foram alcançados vários acordos em setores diversos, incluindo agricultura e adaptação nacional.

Com informações da Agência ONU News

Confira outras informações sobre a cobertura da COP 26 no Canal Rural