Já imaginou como seria plantar alimentos fora do planeta Terra? O que parece coisa de ficção científica está cada vez mais perto de se tornar realidade. Pesquisas sobre agricultura espacial estão avançando rapidamente e podem revolucionar a forma como cultivamos alimentos aqui na Terra.
Experimentos conduzidos em ambientes de gravidade zero têm ajudado cientistas a desenvolver técnicas inovadoras para o cultivo de plantas. Essas pesquisas buscam tornar os vegetais mais resilientes a condições extremas e melhorar a eficiência do plantio, trazendo soluções sustentáveis para os desafios enfrentados pela agricultura terrestre.
A astrobióloga Rebeca Gonçalves é uma das pioneiras nessa área. Primeira brasileira a trabalhar com agricultura espacial, ela se destacou ao liderar um estudo na Holanda, em um dos centros mais avançados do mundo em pesquisa agronômica. O experimento abriu caminho para a produção sustentável de alimentos em Marte.
“A agricultura espacial é a ciência que estuda como cultivar alimentos fora da Terra, seja na Lua, em Marte ou até mesmo em naves espaciais que farão essas viagens”, explica Rebeca.
Em um experimento que simulou as condições do solo marciano, Rebeca conseguiu plantar e colher tomates, ervilhas e cenouras. A técnica utilizada, embora aplicada ao espaço, é milenar e tem o potencial de otimizar o uso de recursos como energia, nutrientes e espaço físico.
De volta ao Brasil, a pesquisadora agora atua como consultora da Agência Espacial Brasileira para projetos de agricultura espacial e integra a Space Farming Brasil, rede de pesquisa liderada pela Embrapa.
Por que cultivar fora da Terra?
O objetivo da agricultura espacial é tornar as futuras bases em Marte e na Lua independentes. Durante missões espaciais, os recursos são limitados e transportá-los é extremamente caro. Com a expectativa de viagens cada vez mais longas e permanências em planetas distantes, garantir a produção de alimentos no espaço se torna uma necessidade.
Mas os benefícios dessas pesquisas vão além das viagens espaciais. As técnicas desenvolvidas para o cultivo em ambientes extremos podem ajudar na recuperação de solos degradados e tornar a produção de alimentos na Terra mais sustentável e eficiente.
“Um exemplo prático é a regeneração de solos degradados. O que aprendemos no espaço pode ser aplicado aqui na Terra para melhorar a qualidade dos solos e aumentar a produtividade agrícola”, destaca Rebeca.
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O papel dos microrganismos na agricultura espacial
A agricultura espacial também tem despertado o interesse de novos cientistas. A doutoranda Jéssica Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), estuda o papel dos microrganismos, como bactérias e fungos, no cultivo de plantas em solos lunares e marcianos.
“Meu projeto é ambicioso porque busca entender como esses microrganismos podem ajudar as plantas a sobreviverem em ambientes extremos”, conta Jéssica.
Sua orientadora, a professora e doutora Camila Patreze, reforça que o interesse dos estudantes pela área tem crescido. Atualmente, ela acompanha outros três alunos dedicados ao tema e pretende lançar uma disciplina optativa sobre astrobotânica na universidade.
“Os alunos veem as atividades acontecendo no laboratório e se interessam. Esse ano, alguns deles vão desenvolver seus próprios projetos na área”, afirma Camila.
O Brasil e a agricultura espacial
O crescimento do interesse pela agricultura espacial não é por acaso. O Brasil é um dos 50 países signatários dos Acordos de Artemis, iniciativa liderada pela NASA para a exploração pacífica da Lua e de Marte. Com isso, o país se comprometeu a desenvolver estudos relacionados ao tema.
Diante de tantos avanços, surge a pergunta: será que um dia veremos fazendas espaciais produzindo alimentos para missões fora da Terra? Segundo Rebeca Gonçalves, a resposta é sim.
“Com certeza veremos fazendas espaciais no futuro. Elas terão formatos variados, dependendo do local onde estiverem. Algumas serão grandes estufas, outras precisarão ficar protegidas sob a superfície lunar e marciana para evitar a radiação cósmica.”
Seja para garantir a sobrevivência humana no espaço ou para melhorar a produção agrícola na Terra, a agricultura espacial já deixou de ser ficção científica e se tornou uma realidade promissora para o futuro da humanidade.
