Projeto brasileiro usa biochar na agricultura para remover carbono da atmosfera

Dois estudos recentes apontam que o potencial de remoção de carbono do biochar é de cerca de 2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano,

A agricultura é um dos setores que mais contribuem para as mudanças climáticas, representando cerca de 25% das emissões globais de gases de efeito estufa. No Brasil, a produção de café e cana-de-açúcar, por exemplo, são responsáveis por uma parcela significativa dessas emissões.

Contudo, o setor também tem um alto potencial de descarbonização, por meio de tecnologias sustentáveis que podem tornar a agricultura um pilar no combate ao aquecimento global.

Um projeto brasileiro desenvolvido pela NetZero, uma green tech francesa, busca combater as alterações climáticas e tornar a agricultura mais sustentável por meio da produção de biochar. O biochar é um condicionador do solo obtido a partir de resíduos de biomassa, como a palha de café e o bagaço de cana, em uma forma de carvão muito estável mediante um processo térmico.

Quando incorporado ao solo, o biochar atua como uma “esponja de carbono”, ajudando a reter água e nutrientes, contribuindo também para a remoção de carbono da atmosfera. Os benefícios do biochar também foram reconhecidos extensivamente e são validados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Biochar pode ser solução

Biochar

Foto: Netzero

A operação da NetZero ocorre em Lajinha (MG), em uma fábrica com capacidade para produzir cerca de 4.000 toneladas de biochar por ano, o que significa remover anualmente mais de 6.500 toneladas de CO2 equivalente da atmosfera. Em Brejetuba (ES), está sendo construída a segunda fábrica, que deve começar a operar no começo de 2024 com capacidade similar a de Lajinha.

Dois estudos recentes apontam que o potencial de remoção de carbono do biochar é de cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a cerca de 5% das atuais emissões globais anuais de dióxido de carbono. Isso também representa cerca de 25% da capacidade global necessária de remoção de carbono até 2050 para atingir emissões líquidas zero.

No Brasil, a cana-de-açúcar e a soja representam cerca de 70% do potencial de remoção. “São pesquisas que mostram o Brasil no topo dos países com maior potencial de produção e remoção de carbono, ou seja, podendo chegar a 250 a 500 milhões de toneladas de CO₂ removidas por ano por meio do biochar“, explica Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da NetZero.

Em Lajinha, a NetZero firmou uma parceria com a Coocafé, uma cooperativa que reúne mais de 10 mil cafeicultores. Eles fornecem milhares de toneladas de resíduos não utilizados provenientes do processo de envelhecimento do café, e a NetZero os transforma em biochar. Estes mesmos agricultores utilizam então este biochar nos seus campos para melhorar a produtividade das culturas e reduzir a utilização de fertilizantes, ao mesmo tempo que ajudam na remoção do carbono.

Na produção de café, fertilizantes são responsáveis por mais de dois terços das emissões de CO₂. Com o uso do biochar, que basta ser aplicado uma única vez no solo, é possível reduzir em 33% a aplicação dos adubos e, ainda assim, aumentar em 14% a produtividade média.

No início deste ano, a NetZero anunciou um aumento de capital de 11 milhões de euros, tornando-se a companhia de tecnologia em meio ambiente a alcançar o maior volume de recursos em uma Série A na Europa. Em 2022, a green tech foi reconhecida como um dos 15 projetos de remoção de carbono mais promissores do mundo no concurso internacional XPRIZE Carbon Removal, da Fundação Elon Musk.