Cafezal em SP resiste a geada com ajuda da sombra das árvores
Arborização da lavoura também permitiu a recuperação de áreas degradas e trouxe benefícios até para o sabor do café
Fugindo da violência da capital após sofrer um sequestro relâmpago, o produtor rural Jefferson Adorno decidiu mudar para o interior e investir na produção de café em uma fazenda localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo.
No entanto, o produtor precisou vencer alguns obstáculos, sendo o principal deles as áreas degradadas. O solo precisava ser recuperado para permitir o cultivo de alimentos. Foi aí que as árvores surgiram como opção para regenerar o solo e ainda agregar valor ao café produzido na propriedade.
Jefferson conta que a ideia de arborizar as lavouras de café surgiu em meados de 2006, a partir de uma pesquisa do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que falava sobre o aquecimento global e dizia que se a temperatura da Terra aumentasse mais de 1,5º C, a produção de café seria inviável na região. “Isso me aterrorizou porque eu já estava apaixonado por essa cultura e aí eu comecei a buscar soluções que poderiam minimizar esse efeito e a única opção que eu encontrei, que seria acessível pra gente, foi a arborização”.
Desde então, mais de 9 mil mudas de árvores já foram plantadas nos 123 hectares da fazenda, que é referência em preservação ambiental no estado de São Paulo. E, além de combater o aquecimento global, a iniciativa ainda trouxe diversos benefícios para o cultivo do café, que passou a ter plantas mais fortes e nutridas devido ao aumento de matéria orgânica.
Outra vantagem para o cafezal foi a proteção natural às adversidades climáticas. No inverno de 2021, por exemplo, os produtores de Minas Gerais, estado que faz divisa com a propriedade de Jefferson, perderam 19% do potencial de colheita por conta das geadas.
“No caso das geadas, especificamente, as árvores salvaram a lavoura. Aqui no entorno dessa lavoura, desse talhão de café, todo o café queimou, precisamos cortar ele baixo, dissecar, como a gente fala, e aqui [onde tem árvores] não teve um pé queimado”, contou o produtor.
O sabor da bebida também melhora com a aplicação da técnica. “A arborização é como se imitasse a altitude, porque ela mantém um conforto térmico melhor para o café, para a lavoura, e isso aí faz com que a maturação do grão vá ocorrendo bem devagarzinho, isso ajuda bastante a melhorar o terroir do café e a bebida também”, diz Adorno.
Como fazer a arborização do café
Jefferson Adorno também explicou como fez para conseguir implementar a lavoura arborizada de café com sucesso, a partir de estudos da literatura produzida na América Central, onde a técnica já é mais comum. “Nós vimos que existem vários pré-requisitos que a gente precisa seguir para que a arborização não prejudique a produção. Então desde o tipo da raiz da árvore, que precisam ser raízes profundas, árvores com copa alta, árvores que, de preferência, não percam as suas folhas no outono e inverno, que são as caboclas, porque é a época que a gente mais precisa do sombreamento, porque a sombra também ajuda a manter a umidade do solo, e é a época que corre o risco de ter geada.
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