Projeto prova que pastagens brasileiras podem sequestrar carbono
Pecuária sustentável já é realidade em fazendas do país
Um estudo liderado por três unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Solo, Informática e Meio Ambiente – em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a WRI, que é uma instituição internacional ligada à onu, vem provando que as pastagens brasileiras podem mitigar as emissões de metano causadas pelos bovinos e ainda sequestrar carbono da atmosfera.
O projeto chamado MRV, Monitoramento, Relato e Verificação dos gases de efeito estufa, analisa diversos dados de fazendas do brasil e da américa latina para mostrar com base em dados científicos o balanço de emissões das propriedades rurais. “As fazendas da América Latina são, normalmente, sequestradoras de carbono”, afirma Willian Marchió, consultor da CRIATEC.
Para participar do estudo, as fazendas passam primeiro por uma espécie de compliance socioambiental. “A gente primeiro verifica se a fazenda tem condições legais de participar do projeto, se não tem desmatamento ilegal, se não tem conflitos de terra, se não está em terras indígenas, se não está em área de proteção ambiental, ou seja, se ela reúne a documentação necessária pra participar do projeto”, explica o consultor.
Após essa avaliação inicial, são coletadas diversas informações para avaliar o quanto de carbono essas fazendas estão emitindo ou sequestrando. “A gente pega dados do bioma em que a fazenda está inserida, quantos hectares ela tem de pastagem, de pastagem melhorada, de pastagem degradada, de pastagem rotacionada, de área de ILP [Integração Lavoura-Pecuária], quando que isso foi feito, quanto que ela tem de reserva, quanto tem de reserva legal e APP, quanto que ela tem de animais”, diz marchió.
Os dados são inseridos em uma calculadora de emissões, chamada GHG Protocol. “Essa calculadora de emissões vai nos dizer o quanto a fazenda está emitindo, o quanto está sequestrando, enfim vai nos dar o balanço de emissões dessa propriedade”, descreve Willian.
Primeiros resultados
Os primeiros resultados revelados pelo estudo na Fazenda Terra de Bacuri, localizada em Mato Grosso, por exemplo, são animadores. “A primeira vez que a gente rodou o GHG na fazenda terra de bacuri, ela conseguiu neutralizar 90% das emissões dela. Mas ela tem condições de zerar as emissões”, avalia Willian Marchió.
De acordo com o gerente de pecuária da propriedade, Marcelo Vieira, o bom resultado é fruto de investimentos em capacitação de pessoal. “A gente vem trabalhando principalmente treinamento de equipe, treinamento de equipe em tudo, como bem-estar, manejo de pastagens, aplicação de herbicida, relacionamento, tudo”.
Outra técnica que vem fazendo diferença na Terra de Bacuri é a adoção da ILP. “A Integração Lavoura-Pecuária hoje é o que veio pra ficar né, porque a gente reforma a área, aproveita pra plantar o milho, depois fica o pasto, esse pasto tem uma maior qualidade e, durante o ano, pode ver que está tudo seco, mas nas áreas de integração continua verde ainda, então é a modernidade que veio pra ficar e está dando certo”, comemora Marcelo Vieira.
Além da Terra de Bacuri, outra propriedade que provou ser capaz de contribuir com o mundo nos esforços para desacelerar o aquecimento global foi a Fazenda Cachoeira, localizada em Itaberá, no interior de São Paulo. “A Fazenda Cachoeira hoje está sequestrando em torno de 2,5 toneladas de carbono por hectare/ano. então ela consegue compensar a emissão dos bovinos e ainda sequestrar”, analisou o consultor Willian Marchió.
Preservar os recursos naturais é prioridade na fazenda paulista, que também investe na Integração Lavoura-Pecuária. “Aqui na Fazenda Cachoeira a gente trabalha com agricultura e pecuária, a gente trabalha com integração. A fazenda sempre teve esse lado ambiental, de cuidar das florestas, cuidar das nascentes, das matas e tentando ser produtivo nessa área”, afirma Itamar Goularth, gerente da propriedade.
Com resultados como esses, baseados na ciência, o Brasil caminha para provar que realiza uma produção sustentável de proteína animal. “Com isso a gente vai começar a mostrar o quanto a nossa pecuária cumpre padrões de ESG, de governança socioambiental, ou seja, essas fazendas cumprem legislações trabalhistas, essas fazendas têm regularização fundiária e essas fazendas também conseguem mitigar ou até sequestrar carbono”, finaliza Willian Marchió.
Confira abaixo a reportagem completa: