‘Fertilizante de esgoto’ é tão eficiente quanto o adubo e pode trazer economia para o produtor

Resultados preliminares de pesquisa conduzida pela ESALQ/USP indicam que fertilizante orgomineral produzido a partir de lodo de esgoto é eficiente e ambientalmente seguro

Um estudo pioneiro da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) está revolucionando a agricultura ao demonstrar que o fertilizante orgânico produzido a partir de lodo de esgoto (FOM-LE) pode ser uma alternativa eficiente e ecologicamente segura para a nutrição vegetal.

Além disso, a pesquisa indica que o uso deste fertilizante pode representar uma economia significativa para os produtores rurais, ao permitir a reciclagem de nutrientes e matéria orgânica em áreas agrícolas. Há também evidências de que o FOM-LE pode substituir total ou parcialmente os fertilizantes minerais em regiões de Cerrado, trazendo benefícios para a qualidade do solo.

Benefícios evidentes

Esgoto, Adubo, Fertilizante

Foto: Mayra Maniero Rodrigues

Os resultados preliminares da pesquisa são impressionantes. Até o momento, diferentes formas físicas do adubo (farelada, peletizada e granulada) e doses (70% e 100% da adubação mineral baseada em P2O5) de um FOM-LE com formulação 4-8-8 estão sendo testadas em comparação com a fertilização estritamente mineral. Os parâmetros avaliados incluem eficiência agronômica, fertilidade do solo, teores de nutrientes nas plantas, efeito residual, presença de metais pesados e impacto sobre indicadores biológicos de qualidade do solo.

Na primeira semana de abril, a colheita da soja na área de estudo foi realizada, seguida pela amostragem de solo e coleta de material vegetal. As análises químicas, que incluem a determinação de macro e micronutrientes, bem como a presença de metais pesados, foram realizadas na ESALQ/USP, em Piracicaba-SP. Mayra Rodrigues, doutoranda envolvida no projeto, afirma que os dados obtidos estão sendo processados estatisticamente para interpretação e discussão.

O milho safrinha foi plantado em maio, seguindo todas as recomendações oficiais para a região. As próximas etapas incluem a coleta e análise química das folhas para avaliação do estado nutricional da cultura. A colheita está prevista para meados de setembro.

Potencial para mudanças

Esgoto, Adubo, Fertilizante

Foto: Mayra Maniero Rodrigues

Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo e responsável técnico pelos fertilizantes da Tera Nutrição Vegetal, enfatiza a importância deste estudo na promoção de políticas públicas que incentivem o tratamento e reaproveitamento do lodo de esgoto na produção de fertilizantes.

O uso de lodos de tratamento de efluentes urbanos e industriais para a fabricação de adubos oferece uma série de benefícios, incluindo a reciclagem de nutrientes e matéria orgânica, redução de custos de destinação de lodo em aterros sanitários, facilidade de transporte e distribuição no campo, além de taxas menores de aplicação. Oliveira conclui que esses fatores tornam os fertilizantes orgânicos uma escolha viável e econômica para os produtores rurais.

Com esta pesquisa inovadora em andamento, a agricultura sustentável pode dar um passo importante em direção a práticas mais ecológicas e econômicas. A expectativa é que os resultados desta pesquisa inspirem mudanças significativas na indústria agrícola e incentivem a adoção generalizada de fertilizantes orgânicos baseados em lodo de esgoto. O futuro da agricultura pode muito bem estar enraizado no tratamento e reaproveitamento de resíduos.

Contribuições

Esgoto, Adubo, Fertilizante

Foto: Mayra Maniero Rodrigues

A pesquisa, que está atualmente em seu segundo ano de estudo de campo, é liderada pela professora Dra. Jussara Borges Regitano, do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, e conta com a participação dos doutorandos Mayra Maniero Rodrigues e Thomás dos Santos Trentin, do Programa de Pós-Graduação em Solos e Nutrição de Plantas, bem como do graduando em engenharia agronômica Lucas Pacheco de Carvalho Oliveira

O projeto também tem colaborações valiosas, incluindo o professor Dr. Thiago Assis Rodrigues Nogueira, da UNESP/Ilha Solteira, e o grupo GENAFERT, representado pelos graduandos Isabella Silva Cattanio, Guilherme Nunes Carvalho Ramos e Pedro Henrique Silva, alunos de engenharia agronômica e iniciação científica. A Tera Nutrição Vegetal oferece apoio ao projeto, fornecendo adubos orgânicos fabricados com lodo de esgoto e outros resíduos orgânicos por meio da compostagem termofílica em escala industrial.