Durante entrevista ao Planeta Campo Talks, o empresário e CEO do Grupo Bemol, Denis Minev, defendeu uma nova visão sobre a Amazônia. Ele reforçou que a região não deve ser vista como um problema, mas sim como uma grande oportunidade de desenvolvimento sustentável. Com vasta experiência no setor privado e no serviço público do Amazonas, Minev foi escolhido como enviado especial da COP 30 para representar o setor privado da região.
Segundo ele, é impossível pensar em soluções únicas para a Amazônia, dada a diversidade cultural, geográfica e socioeconômica do bioma. “A distância entre duas cidades amazônicas pode ser maior do que entre São Paulo e Lima, no Peru. Não dá para tratar tudo com a mesma receita”, alertou.
Amazônia urbana, pobre e mal conectada
Apesar da imagem romântica do ribeirinho vivendo em harmonia com a natureza, Minev expôs uma realidade dura: 80% da população amazônica vive em áreas urbanas que sofrem com baixa qualidade de vida. “As cidades da Amazônia têm os piores indicadores de saneamento, educação e saúde do Brasil. A logística é um desafio imenso e caro, que prejudica o desenvolvimento”, afirmou.
Para enfrentar essa realidade, a empresa de Minev investe em inovações tecnológicas voltadas à mobilidade fluvial, como canoas autônomas e barcos voadores, com apoio da Finep. Essas soluções, segundo ele, podem revolucionar o transporte de pessoas e mercadorias em regiões isoladas.
O agro amazônico já é realidade — e pode crescer com responsabilidade
Minev destacou o crescimento da agricultura e da pecuária na Amazônia, especialmente em áreas já desmatadas. Culturas como soja, milho, arroz e café têm ganhado espaço, além da pecuária. No entanto, ele alerta para o baixo aproveitamento de áreas já abertas: dos 90 milhões de hectares desmatados, cerca de 70 milhões são subutilizados.
“A Amazônia pode produzir muito mais, com mais valor, sem desmatar. É preciso investir em pecuária intensiva, sistemas agroflorestais e cadeias produtivas que combinem produtividade e conservação”, explicou. O empresário defende o uso de modelos produtivos que armazenem carbono, promovam a biodiversidade e melhorem a renda da população.
COP 30: o carbono como moeda de transição sustentável
Com a COP 30 acontecendo em Belém (PA), Minev afirma que o evento será uma chance histórica para o Brasil mostrar o protagonismo amazônico na agenda climática global. Para isso, ele defende a valorização do carbono como ativo econômico, capaz de incentivar produtores a investir em agroflorestas, reflorestamento e cadeias produtivas sustentáveis.
“Se você pagar de forma justa pelo carbono capturado por uma agrofloresta, o produtor vai investir nisso. Ele vai trocar gado extensivo por cacau, café, madeira legalizada e açaí”, explicou. Ele acredita que o mercado de carbono e a bioeconomia são pontes possíveis entre conservação e desenvolvimento.
Turismo, investimentos e ambição: a Amazônia que queremos
Minev vê o turismo como um caminho promissor para gerar renda e preservar o bioma, mas reforça que o Brasil precisa acreditar no potencial da Amazônia. “Não dá para pensar pequeno. A gente tem que parar de tratar a Amazônia como um peso. É um patrimônio da humanidade, mas também dos brasileiros”, afirmou.
Por fim, o empresário defende que o Brasil precisa investir pesado na região para acelerar seu desenvolvimento sem repetir os erros de destruição do passado. “A Amazônia precisa de gente, precisa de vida, de dignidade. Dá para crescer sem destruir. E temos que provar isso ao mundo na COP 30.”