Em 2024, o mundo presenciou um recorde de aquecimento global, superando os já alarmantes índices de 2023. A temperatura média global continua a subir de forma acentuada, trazendo consigo uma série de implicações para o agronegócio. Arthur Muller, especialista em clima, discutiu esses fenômenos no quadro Que Clima é Esse?, do programa Planeta Campo.
O Impacto Imediato das Temperaturas Elevadas
Durante a entrevista, Muller explicou que os efeitos do aumento de 1,6°C na temperatura global já são evidentes em diversas regiões do mundo, e o agronegócio não está imune a esses impactos. O clima instável, marcado por secas prolongadas, chuvas mal distribuídas e incêndios, tem gerado uma série de desafios para produtores rurais, que enfrentam dificuldades para garantir a produtividade e segurança alimentar.
“Com um clima mais quente, as pragas proliferam mais rápido, e os fenômenos climáticos extremos, como as secas, se tornam mais frequentes, o que afeta diretamente a produção agrícola”, disse Muller. Ele destacou que, apesar do Brasil se destacar na busca por práticas sustentáveis, o problema é global, e é necessário um esforço conjunto para mitigar os danos causados pelos gases de efeito estufa.
A Ascensão das Temperaturas: O Que Está por Trás do Aquecimento Global?
A ciência já alertava para o aumento da temperatura desde a Revolução Industrial, quando a emissão de gases de efeito estufa, como o CO2, começou a crescer de forma acelerada. A preocupação com o impacto da emissão desses gases na atmosfera foi uma constante nos últimos 200 anos, mas, como destacou Muller, o aumento atual tem sido especialmente rápido e intenso.
“O aumento de temperatura foi gradual até 1920, mas após esse período, ele acelerou de forma preocupante, atingindo 1°C em apenas algumas décadas. Isso nunca foi registrado antes em nossa história”, explicou o especialista. A rápida escalada das temperaturas exige ações imediatas para mitigar os impactos, como políticas de redução das emissões e a adoção de tecnologias sustentáveis.
O Papel do El Niño e Laninha no Aquecimento Global
Outro ponto abordado foi a influência dos fenômenos climáticos como El Niño e Laninha, que agravam o aquecimento global. Em 2024, o El Niño intensificou as altas temperaturas, e, surpreendentemente, mesmo com o retorno da Laninha, o ano seguiu com índices recordes de calor.
“A Laninha, que normalmente causa resfriamento no Pacífico, não foi suficiente para conter o aquecimento global. A emissão contínua de gases de efeito estufa pelas grandes potências industriais contribui para esse desequilíbrio climático”, afirmou Muller. O especialista alerta que, em 2025, a temperatura pode continuar a subir, exacerbando ainda mais os problemas climáticos.
O Desafio para o Agronegócio e a Segurança Alimentar
A escalada das temperaturas globais coloca o agronegócio em uma situação desafiadora. As mudanças climáticas não afetam apenas a produção de alimentos, mas também comprometem a segurança alimentar global, com a possibilidade de escassez de produtos essenciais devido a colheitas prejudicadas e instabilidade climática.
“A preocupação com a segurança alimentar é grande. Quando o clima se torna mais instável, a produção de alimentos se torna imprevisível, o que pode resultar em crises alimentares em diversas partes do mundo”, disse Muller. Para o Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, isso significa um cenário de incerteza que exige preparação e adaptação.
A Solução: Redução de Gases de Efeito Estufa e Adoção de Práticas Sustentáveis
Muller também destacou a importância da adoção de práticas agrícolas sustentáveis e da redução das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil, que já tem avançado com tecnologias sustentáveis, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta, precisa continuar a avançar e estimular políticas públicas que incentivem a sustentabilidade.
“É essencial que todos os países, especialmente os mais industrializados, colaborem para reduzir as emissões e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A atmosfera não tem fronteiras, e os impactos negativos de um país industrializado afetam o mundo inteiro”, conclui o especialista.
Os dados são claros: as altas temperaturas globais e os fenômenos climáticos extremos são uma realidade com a qual o agronegócio precisa lidar de maneira urgente. Com um futuro incerto, a adoção de práticas sustentáveis e políticas de mitigação são fundamentais para garantir a segurança alimentar e a estabilidade climática nos próximos anos.