Créditos de carbono para florestas nativas: como ocorre o incentivo?
No atual cenário, o agronegócio tem no mercado de créditos de carbono um caminho promissor para unir desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, inclusive de florestas nativas
O Brasil possui uma das maiores áreas de florestas do mundo, com uma área estimada em 488 milhões de hectares de florestas nativas. Conservar essas florestas é preservar a vida e seus recursos naturais. Neste contexto, a comercialização dos créditos de carbono é uma excelente oportunidade.
A recente inclusão da atividade de “Conservação de Florestas Nativas” na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), sinaliza o crescente reconhecimento dos serviços ambientais prestados como ativos econômicos valiosos, caso dos créditos de carbono.
Conservar as florestas é preservar a vida
As florestas nativas são importantes para a continuidade da vida. São elas que fornecem habitat para a ampla biodiversidade natural, regulam o clima e o ciclo hidrológico, além de proteger o solo da erosão.
E os benefícios não acabam por aí. Por meio de seus recursos naturais, as florestas estão estritamente ligadas à qualidade de vida da sociedade. Elas são fonte de alimentos, plantas medicinais e até um ambiente turístico que chama a atenção de todos.
Por fim, mas não menos importante, os recursos naturais das florestas regulam a temperatura, umidade e qualidade do ar. Consequentemente, são capazes de sequestrar e armazenar excesso de carbono através do solo e de raízes, caules e folhas das árvores.
O que são créditos de carbono?
Como você viu, por sequestrar altos volumes de carbono por meio de suas raízes, caules e folhas, as florestas são excelentes para o mercado de créditos de carbono. Mas você sabe o que, de fato, é esse mercado?
Segundo Adriana Oliveira, os créditos de carbono são certificados que quantificam a remoção ou a não emissão de uma tonelada de dióxido de carbono, ou seu equivalente em outros gases de efeito estufa — da atmosfera (CO₂ eq.).
“Os créditos são o coração do mercado de carbono e funcionam como uma estratégia ambiental e econômica que busca frear o aquecimento global”, complementa.
Cada crédito é fruto de projetos que vão desde o reflorestamento até a implementação de tecnologias limpas, passando por ações que conservam ecossistemas naturais ricos em carbono, como as florestas tropicais.
Na prática, a presidente da Conscience Carbon explica que os créditos funcionam como uma compensação.
“Neste mercado, as empresas ou países que excedem suas cotas de emissões de GEE podem adquirir créditos de quem tem um excedente, criando um ciclo financeiro que incentiva a redução de emissões globais”.
Portanto, além de seu valor intrínseco de combate às mudanças climáticas, os créditos de carbono incentivam a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável.
Comercialização de créditos de carbono: simples, mas muito eficiente
A comercialização de créditos de carbono funciona como um mecanismo de mercado que traduz reduções de gases de efeito estufa em ativos negociáveis e transferíveis, podendo ser financeiros ou não.
Lilian Monteiro destaca também que existem dois principais tipos de mercado: o regulado e o voluntário.
No mercado regulado, empresas e países sujeitos a regulamentações climáticas compram créditos para atender a limites legais de emissões de GEE. Já no mercado voluntário, entidades adquirem créditos voluntariamente, seja para cumprir metas corporativas de sustentabilidade, seja para melhorar sua imagem junto a consumidores e investidores.
“Em ambos os casos, a negociação dos créditos segue princípios de oferta e demanda, e o preço é influenciado pela qualidade e pelo impacto ambiental do projeto que originou o crédito”, complementa Lilian.
Com esse modelo, a comercialização não só promove o financiamento de projetos benéficos ao clima e ao meio ambiente, como também permite que empresas e nações mais poluidoras financiem indiretamente ações de redução de emissões globalmente, cumprindo suas metas ambientais de maneira eficaz e responsável.
Créditos de carbono para florestas nativas: relação que gera ótimos frutos
No atual cenário, o agronegócio tem no mercado de créditos de carbono um caminho promissor para unir desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, inclusive de florestas nativas.
Para Lilian Monteiro, a implementação de práticas agrícolas inovadoras, como o plantio direto, a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), aumenta não só a eficiência na absorção de carbono pelo solo, mas também diminui a dependência de insumos químicos, reduzindo a pegada de carbono das atividades agroflorestais.
“A transformação dessas emissões reduzidas em créditos de carbono certificados abre uma nova fonte de renda para o segmento, incentivando a manutenção e o desenvolvimento de práticas ambientalmente corretas e fortalecendo a imagem do setor como participante ativo na luta contra as mudanças climáticas”, destaca Lilian.
A diretora financeira da Conscience Carbon salienta que outro marco significativo é a recente inclusão da atividade de ‘Conservação de Florestas Nativas’ na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), sinalizando um reconhecimento crescente dos serviços ambientais prestados como ativos econômicos valiosos.
“Este avanço reconhece os esforços de conservação de florestas nativas como uma atividade econômica legítima e, ainda, permite que os proprietários de terras obtenham benefícios financeiros pela preservação de áreas de mata nativa”.
Nova “safra” para o segmento florestal
Para Lilian, esse marco pode criar uma “nova safra” para os agricultores — a safra de florestas em pé preservadas, tanto nas áreas de reserva legal (RL) e de Preservação Permanente (APP) quanto nos excedentes de vegetação nativa.
“Essa inclusão enfatiza a função vital das florestas na preservação da biodiversidade, na regulação dos recursos hídricos e na captura de carbono, contribuindo de maneira importante para a estabilidade climática global”, complementa.
Com isso, proprietários de terras que decidem exercer a atividade de conservação de florestas nativas, por meio de projetos específicos de Pagamento de Serviços Ambientais (PSA) voltados à redução de emissões provenientes do desmatamento e degradação florestal, agora podem monetizar esses esforços, comercializando créditos de carbono no mercado e, consequentemente, gerando renda adicional.
“Este processo estimula a bioeconomia e consolida a posição da agricultura como protagonista em práticas sustentáveis”, destaca Lilian.
A sinergia entre as práticas agrícolas regenerativas e a conservação florestal, alinhadas ao mercado de créditos de carbono, cria um equilíbrio entre os interesses econômicos e as necessidades climáticas e ambientais, trilhando o caminho para um futuro em que o agronegócio e o meio ambiente possam prosperar lado a lado.
Por Digital Agrishow