A safra 2024/25 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, principal região produtora do país, segue forte mesmo diante dos desafios climáticos. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), até 15 de janeiro, as usinas já haviam processado 614 milhões de toneladas de cana. O volume coloca a safra como a segunda ou terceira maior da história, atrás apenas do recorde de 618 milhões de toneladas. A previsão é que a moagem continue até março.
Apesar da seca e dos incêndios que atingiram principalmente os canaviais de São Paulo ao longo de 2024, a produção se manteve elevada. Um dos destaques foi o etanol, que atingiu a maior oferta da história, totalizando 36,8 bilhões de litros, um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Desse total, 7,7 bilhões de litros foram produzidos a partir do milho, um crescimento de 32,8%.
Com esses números, o Brasil reforça sua posição como o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A participação do etanol de milho na produção total também cresceu. No ano passado, ele representava 18,5% da oferta. Nesta safra, esse percentual deve ficar entre 23% e 24%.
“Agora temos duas matérias-primas complementares. Cerca de 75% do etanol vem da cana e 25% do milho, o que torna o setor menos vulnerável a eventos climáticos extremos”, afirma o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues.

Etanol é essencial para descarbonização e economia do consumidor
Atualmente, entre 45% e 50% da energia que move os veículos leves no Brasil vem do etanol. Isso tem impacto direto na sustentabilidade, já que o etanol hidratado emite até 90% menos CO2 do que a gasolina. O Brasil tem investido nesse biocombustível há cinco décadas, com resultados expressivos na redução de emissões.
Desde a chegada do carro flex, mais de 710 milhões de toneladas de CO2 equivalente deixaram de ser emitidas. Além disso, o uso do etanol gerou uma economia de R$ 110 bilhões aos consumidores.
“O Brasil é o único lugar onde o consumidor economiza ao descarbonizar e descarboniza economizando”, destaca o presidente da Unica Evandro Gussi.
Lei dos Combustíveis do Futuro pode ampliar a mistura de etanol na gasolina
O setor bioenergético avançou em 2024 também no campo das políticas públicas. Um dos principais marcos foi a aprovação da Lei dos Combustíveis do Futuro, que cria um novo regulamento para os biocombustíveis no Brasil. Atualmente, a mistura de etanol na gasolina pode chegar a 27,5%. Com a nova legislação, esse percentual pode subir para 30% ou até 35%, desde que haja viabilidade técnica.
O Ministério de Minas e Energia coordena testes conduzidos pelo Instituto Mauá para avaliar os impactos do aumento da mistura na frota atual. O estudo envolve representantes dos produtores de biocombustíveis, combustíveis fósseis, montadoras e fabricantes de autopeças. A previsão é que os resultados sejam divulgados em março, o que pode abrir caminho para um etanol ainda mais presente no dia a dia dos brasileiros.
O aumento da mistura pode trazer benefícios como maior octanagem da gasolina e redução das emissões de gases poluentes. Para garantir o crescimento da demanda por etanol, a Unica investe em campanhas educativas. A segunda fase da ação “Vai de Etanol” reforça os benefícios do biocombustível para o carro, o bolso e o meio ambiente.
Etanol brasileiro ganha atenção no mercado internacional
A solução já adotada no Brasil também desperta o interesse de outros países. Com a crescente pressão para descarbonizar o setor de transportes, várias nações buscam alternativas rápidas e acessíveis para reduzir suas emissões. O modelo brasileiro é estudado por países como Índia, Japão, África do Sul e Colômbia.
Diferentemente de tecnologias que exigem altos investimentos, como os carros elétricos, o etanol já está pronto para ser utilizado em grande escala. A infraestrutura para produção e distribuição já existe, o que torna a transição mais rápida e barata. Com isso, o Brasil se fortalece como referência em biocombustíveis e amplia suas oportunidades no mercado global.