
Estudo da Embrapa Pecuária Sudeste comprova que o consórcio entre pastagem e árvores pode zerar o metano gerado por mais de dois bois por hectare.
Os sistemas integrados com árvores, como o consórcio entre pastagens e eucaliptos, são capazes de neutralizar as emissões de metano de mais de dois bovinos adultos por hectare. A constatação é resultado de uma pesquisa conduzida pela Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), ao longo de 13 anos em uma área de 12 hectares.
Durante o estudo, os pesquisadores mediram as emissões de metano entérico dos animais e o crescimento das árvores, especialmente o acúmulo de carbono em seus caules. O resultado é claro: o carbono estocado nas árvores foi suficiente para compensar as emissões dos animais, trazendo um importante indicativo de que esses sistemas, bem planejados, são aliados da pecuária de baixo carbono.
Integração com ganhos ambientais e econômicos
Além da neutralização das emissões, o sistema silvipastoril oferece benefícios como o conforto térmico do rebanho, conservação do solo, proteção contra extremos climáticos e geração de renda com a comercialização da madeira.
“É possível manter uma lotação animal semelhante à de sistemas convencionais, desde que bem manejados. A diferença é que, nesse modelo, o produtor ainda obtém um produto adicional com a venda da madeira”, explica José Ricardo Pezzopane, pesquisador da Embrapa.
Segundo ele, os ganhos variam conforme a espécie arbórea e o planejamento do sistema, mas há potencial para elevar a rentabilidade, principalmente quando se agrega valor aos produtos florestais. A madeira pode ser utilizada na própria fazenda ou comercializada, ampliando as fontes de renda da propriedade.
Tecnologia acessível para qualquer tamanho de propriedade
Uma das grandes vantagens destacadas pelo pesquisador é que não há limitação de tamanho de área para adoção dos sistemas silvipastoris. Tanto pequenas quanto grandes propriedades podem se beneficiar da técnica, desde que haja planejamento adequado.
Em pequenas áreas, os produtos florestais podem ser utilizados para fins internos, como em currais, cercas ou mesmo com árvores frutíferas e apícolas. “Mesmo em pequena escala, é possível conciliar produção animal com uso de madeira ou frutas, por exemplo. O importante é adaptar o sistema à realidade da fazenda”, afirma Pezzopane.
Aplicação em todo o território brasileiro
Os sistemas silvipastoris são viáveis em todas as regiões do Brasil, desde que o componente arbóreo seja bem escolhido e o manejo seja feito de forma eficiente. Em regiões frias, as árvores servem como barreiras contra o frio. Já em áreas quentes, oferecem sombra para os animais, reduzindo o estresse térmico.
“A sinergia entre árvores, solo e animais pode ser planejada para qualquer bioma brasileiro. Não há restrições geográficas, apenas a necessidade de adequar o projeto à região”, explica o pesquisador.
Embrapa oferece apoio técnico aos produtores
A Embrapa mantém uma ampla rede de pesquisa, capacitação e atendimento técnico para apoiar a adoção dos sistemas silvipastoris. Além de materiais disponíveis online, a instituição promove treinamentos com técnicos de campo e extensionistas, garantindo que o conhecimento chegue a quem mais precisa.
Pezzopane reforça que o produtor pode acessar as publicações da Embrapa ou buscar orientação direta por meio dos canais oficiais. “A transferência de tecnologia é um dos pilares da Embrapa. Queremos ver esses sistemas sendo aplicados nas propriedades, gerando renda, protegendo o meio ambiente e ajudando o Brasil a cumprir suas metas climáticas”, conclui.