Tecnologia sustentável: Pesquisa da Embrapa revoluciona o mercado de frutas com revestimento natural

O desperdício de alimentos é um dos maiores desafios enfrentados pela indústria alimentícia e pelo agronegócio globalmente. Dados da FAO indicam que cerca de um terço de toda a produção de alimentos é desperdiçada, e as frutas, por serem altamente perecíveis, são uma das categorias mais afetadas. No entanto, uma inovadora solução pode estar à vista, graças a um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Química da USP de São Carlos, com a colaboração da Embrapa Instrumentação.

A pesquisa, que foi conduzida no doutorado de Mirella Romanelli, pesquisadora da Embrapa Instrumentação, desenvolveu um revestimento natural para frutas, como o morango, com o objetivo de aumentar sua durabilidade e reduzir o desperdício alimentar. O revestimento, totalmente comestível e à base de resíduos naturais, inclui compostos extraídos de casca de romã e quitosana – um polissacarídeo extraído de crustáceos e insetos.

Como Funciona a Tecnologia

O revestimento é composto por um gel simples, feito a partir da combinação de quitosana e gelatina, com a adição de compostos antioxidantes extraídos da casca da romã, que aumentam ainda mais a eficácia do produto. Esse gel é aplicado diretamente nas frutas, proporcionando uma camada protetora que evita a contaminação por fungos, como o mofo, que é comum em morangos. Além disso, a aplicação do revestimento retarda a perda de água, um dos principais fatores que causam a deterioração das frutas.

A pesquisadora Mirella Romanelli explicou, durante entrevista ao programa Planeta Campo, que a tecnologia é simples e de baixo custo. “O processo de aplicação é feito por imersão, onde as frutas são mergulhadas no gel, que depois é deixado para secar e escorrer o excesso”, explicou. “Esse processo pode ser realizado em larga escala, o que é um ponto positivo para a aplicação comercial dessa tecnologia.”

Resultados Promissores

Os resultados obtidos até agora com os testes de aplicação do revestimento são altamente promissores. Com a utilização do revestimento, a vida útil dos morangos foi prolongada por até 8 dias, retardando significativamente a contaminação por fungos e mantendo a textura da fruta. Além disso, a pesquisa também demonstrou que os compostos antioxidantes presentes no revestimento aumentaram o conteúdo de vitamina C e outras propriedades nutricionais dos morangos, beneficiando tanto a qualidade do produto quanto a saúde do consumidor.

“Conseguimos melhorar o valor nutricional da fruta, preservando seus compostos bioativos, como as antocianinas, e, ao mesmo tempo, proporcionando uma vida útil mais longa. Isso tem um grande impacto na redução do desperdício de alimentos, que é um dos maiores problemas no agronegócio”, destacou Mirella.

Próximos Passos e Expansão da Pesquisa

A pesquisadora também compartilhou as perspectivas futuras para a tecnologia. Segundo ela, os próximos passos envolvem testar o revestimento em outras frutas e expandir os testes para entender como ele pode ser aplicado de maneira mais ampla. A expectativa é que, em breve, a tecnologia esteja disponível para o mercado, oferecendo uma solução eficaz para produtores e consumidores.

“Já iniciamos os testes com maçãs, e os resultados também estão sendo promissores”, afirmou Mirella. “Nosso objetivo é continuar testando e aprimorando essa tecnologia, para que um dia ela chegue ao mercado em larga escala, beneficiando tanto os produtores quanto o meio ambiente.”

Impacto no Agronegócio e Sustentabilidade

Além de aumentar a vida útil das frutas e reduzir o desperdício, a utilização de compostos naturais no revestimento traz um benefício adicional: a sustentabilidade. O uso de resíduos, como a casca da romã, contribui para a economia circular, ao reaproveitar materiais que, de outra forma, seriam descartados. Essa abordagem é cada vez mais importante no setor agroalimentar, que busca soluções que não apenas aumentem a produtividade, mas também minimizem os impactos ambientais.

A solução desenvolvida pela Embrapa e USP pode ser um marco no agronegócio, unindo inovação tecnológica, sustentabilidade e eficiência no combate ao desperdício de alimentos. Mirella Romanelli destaca que o avanço dessa tecnologia representa um passo importante para transformar o setor agrícola, tornando-o mais sustentável e eficiente.

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