Recuperar florestas em pequenas propriedades pode produzir 156 milhões de toneladas de alimentos
Além disso, o uso dos modelos de Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode gerar R$ 260 bilhões de receita líquida e remover 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera
Recuperar 1,02 milhão de hectares de área desmatada usando modelos de Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode gerar R$ 260 bilhões de receita líquida, remover 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera e produzir 156 milhões de toneladas de alimentos para o país.
Os números são do estudo inédito do Instituto Escolhas, que revelou os benefícios que podem advir da recuperação de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, meta assumida pelo Brasil no Acordo de Paris. Em novo recorte do estudo, a organização mostra o potencial que reside na recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP) desmatadas e localizadas em pequenas propriedades.
“Os dados reforçam que é fundamental direcionar recursos para a recuperação de florestas também nas pequenas propriedades, especialmente aquelas da agricultura familiar, que são, historicamente, importantes na produção e na diversificação dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros”, afirma Patricia Pinheiro, gerente de projetos do Escolhas.
O que são Sistemas Agroflorestais (SAFs)?
Os SAFs têm como objetivo criar ecossistemas agrícolas mais diversificados e sustentáveis, aproveitando os benefícios mútuos entre as árvores, culturas e animais. Alguns dos principais elementos e características dos SAFs incluem:
- Diversidade de Espécies: Os SAFs geralmente envolvem o cultivo de uma variedade de espécies de árvores, culturas agrícolas e, às vezes, animais, criando uma grande diversidade biológica na área.
- Integração Vertical: Em SAFs, diferentes estratos de vegetação são integrados, com árvores altas, árvores de médio porte, culturas de baixo crescimento e, em alguns casos, pastagem para animais.
- Ciclagem de Nutrientes: As árvores podem fornecer nutrientes às culturas por meio da queda de folhas, promovendo a ciclagem de nutrientes no ecossistema.
- Proteção e Sombreamento: As árvores podem fornecer sombra para as culturas, protegendo-as contra temperaturas extremas e ajudando a conservar a umidade do solo.
- Diversificação de Produtos: SAFs podem produzir uma variedade de produtos, incluindo madeira, frutas, culturas alimentares, forragem para animais e produtos não madeireiros, como resinas e óleos.
- Resiliência a Pragas e Doenças: A diversidade de plantas em SAFs pode torná-los mais resilientes a pragas e doenças, pois muitas espécies diferentes podem não ser igualmente suscetíveis a esses problemas.
- Sustentabilidade: SAFs são frequentemente mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, reduzindo a erosão do solo, melhorando a qualidade da água e sequestrando carbono da atmosfera.
- Benefícios Socioeconômicos: Eles também podem ter benefícios socioeconômicos, fornecendo renda para agricultores, melhorando a segurança alimentar e aumentando a resiliência das comunidades rurais.
Os SAFs são praticados em todo o mundo, em diferentes formas e escalas, e são especialmente relevantes em regiões tropicais, como a Amazônia.
Eles oferecem uma abordagem promissora para a agricultura sustentável, contribuindo para a conservação de ecossistemas naturais e reduzindo os impactos ambientais negativos associados à agricultura convencional.
Recuperação florestal
Segundo Pinheiro, a opção pelos SAFs como método de recuperação florestal deu-se pelas vantagens imediatas para os agricultores familiares.
“Os SAFs permitem o retorno do investimento em curto prazo, graças as culturas agrícolas de ciclo rápido, e, ao mesmo tempo, asseguram a renda em longo prazo, graças ao cultivo de espécies perenes”, explica Pinheiro.
Os Sistemas Agroflorestais se caracterizam pelo plantio consorciado de plantas arbóreas nativas, frutíferas e/ou madeireira e de cultivos agrícolas de maneira simultânea ou sequencial. Alguns SAFs incluem a criação de animais.
Aumento e diversificação dos alimentos
Os modelos de SAF propostos pelo estudo levam em consideração as características ecológicas e a aptidão produtiva das cinco regiões do país. Ao todo, 43 variedades de alimentos de lavoura e extrativismo foram contempladas.
Nos cenários gerados pela aplicação dos modelos, alimentos como milho verde, pinhão, buriti, cumaru, jabuticaba, mangaba, erva-mate e palmito superariam em mais de 100% a sua produção atual no país. Já para os outros 15 alimentos sobre os quais há dados oficiais disponíveis para comparação direta, há aumentos variáveis – por exemplo, 27,4% para o cacau, 40,4% para o cupuaçu e 71,1% para o pequi. Para as lavouras de ciclo curto, cultivadas nos três primeiros anos, o aumento é de 11% para o feijão, 12,4% para a banana e 28,9% para a mandioca.
A produção total dos SAFs representaria, portanto, uma média de 5,2 milhões de toneladas de alimentos a mais produzidos por ano, aumentando a oferta em quantidade e diversidade na mesa da população brasileira. Para isso, o país teria que investir R$ 33,1 bilhões na implementação dos modelos. “No entanto, os ganhos chegariam à marca de R$ 260 bilhões, quase oito vezes o valor a ser investido”, destaca Pinheiro.
O estudo está sendo desenvolvido em parceria com a Biodendro Consultoria Florestal. No início de agosto, nesta onepage, o Escolhas liberou os dados referentes ao montante total a ser investido pelo país para recuperar os 12 milhões de hectares e seus potenciais benefícios. O lançamento da íntegra do estudo ainda não tem data prevista.