Agricultores sobem preços dos produtos com venda direta
O mercado das foodtechs ainda é incipiente no Brasil mas tem crescido a passos largos
Em 2006, o francês David Ralitera saiu de seu país de origem e mudou-se para São Paulo. Executivo em publicidade, em terras brasileiras também transformou sua profissão: produtor rural. O cenário: região de Morungaba, município paulista com mais de 13 mil habitantes.
Ralitera dedicou-se a cultivar hortaliças orgânicas e as chamadas PANCs, Plantas Alimentícias Não-Convencionais. De acordo com a Embrapa, são espécies vegetais com uma ou mais partes alimentícias, espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas. “Não adianta ter uma proposta onde ninguém possa comprar. Minha preocupação é a sustentabilidade social, as pessoas”, afirmou.
Muitas das espécies plantadas pelo ex-publicitário, influenciam a culinária e a cultura locais, numa tradição passada de geração a geração – por isso também chamadas de hortaliças “tradicionais”. Algumas são cosmopolitas, dispersas mundo a fora e muitas vezes classificadas equivocadamente como plantas “daninhas”.
Pancs
As oportunidades para este nicho de mercado tem demonstrado uma demanda crescente e público-alvo tem grande interesse como iguaria para uso culinário e gastronômico. Além disso, podem ser incorporadas à produção de base agroecológica. As plantas alimentícias não convencionais podem ser tão nutritivas quanto as que já consumimos diariamente.
Geralmente, são plantas rústicas, propagadas por mudas ou sementes, pouco afetadas por pragas e doenças, bem adaptadas ao clima de sua região, apresentam eficiência na absorção de nutrientes. Essas características, portanto, as colocam como hortaliças de fácil cultivo.
Foodtech
Pancs ou outros produtos cultivados pela David são comercializados a consumidores paulistanos graças às chamadas Foodtech. Na prática, são startups que desenvolvem soluções para o setor alimentício.
O mercado das foodtechs ainda é incipiente no Brasil em comparação com outros segmentos de startups, como saúde, varejo, RH, marketing e agropecuária, mas tem crescido a passos largos. Inclusive, já começou a impactar o segmento com novas formas de olhar para a cadeia de produção e distribuição dos alimentos. A conclusão é do relatório “Liga Insights Food Techs”, feito pelo Liga Insights em parceria com Derraik & Menezes, IGC Partners, Ambev e Cargill.
Embora mais consolidada em outros países, a categoria já atrai empreendedores e investidores, de olho em negócios prósperos capazes de reinventar o modo de criar, comprar, cozinhar e pensar a comida.
Bianca Reame, diretora de marketing da Raizs, empresa responsável pela distribuição dos produtos do David, explica que a plataforma funciona em duas modalidades: avulsos – semelhante a um supermercado online; ou através de uma assinatura – o cliente escolhe a quantidade de porções que ele quer de frutas legumes e verduras e temperos e a empresa entrega de acordo com a sazonalidade da produção.
A empresa tem triplicado sua atuação a cada ano. Em 2021 contava com mais de 300 mil clientes atendidos por cerca de 200 funcionários e mais de 900 produtores que recebem a demanda dos consumidores, o pagamento e também apoio financeiro para estruturar suas produções.
No primeiro semestre de 2020, a empresa atraiu 4 mil novos clientes. No mesmo período de 2021, foram pelo menos 7,5 mil novos consumidores, assinantes ou avulsos — um aumento de 87% em novos clientes.
“O modelo de negócio é recriar a conexão que foi pedido entre o campo e o consumidor final. Tudo isso sem desperdício e respeitando os ciclos de cada produtor. A preparação do produto também é diferente, não usamos plásticos. Recebemos produtos vindos do interior. São colocados em cestas com papel descartável. Estamos trabalhando na expansão em outros Estados para diminuir o caminho que o alimento faz até a mesa”, afirmou.
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