‘Brasil está preparado para implementar rastreabilidade na produção’, diz head de sustentabilidade do Rabobank
No Planeta Campo Entrevista desta quarta-feira (25), o programa recebeu Taciano Custódio, head da Rede de Sustentabilidade do Rabobank
No Planeta Campo Entrevista desta quarta-feira (25), o programa recebeu Taciano Custódio, head da Rede de Sustentabilidade do Rabobank. Alguns dos temas discutidos foram crédito e investimentos na agricultura para limitar o aquecimento global, mudanças climáticas e rastreabilidade.
Ele tem formação em Biologia, especialização em Engenharia Sanitária e mestrado em Sustentabilidade. Com 15 anos de experiência em gestão global de sistemas alimentares.
Confira um trecho da entrevista
Planeta: Como as atuais políticas do Rabobank estão voltadas para a emissão de créditos e investimentos em práticas sustentáveis? Existe uma ligação entre metas e taxas de juros mais atrativas? Como funciona no banco?
Taciano: Incorporamos não só a análise de crédito, olhando para taxas de juros e prazos, considerando que o agronegócio é uma atividade de médio a longo prazo, dependendo do tipo de produção e cultura. O banco está de fato unindo esses critérios e atributos para tornar a atividade do produtor cada vez mais competitiva. Sustentabilidade, para nós, significa competitividade e acesso ao mercado. Mais produtividade e rentabilidade para o produtor permitem que ele invista na adequação ambiental, no desenvolvimento local e no desenvolvimento social da atividade. Então, sim, existe este link. As taxas e prazos de juros também são analisados considerando o desempenho ambiental, social e de governança dos produtores. E esta é uma tendência não só dentro do Rabobank, mas também dentro do universo regulado do Banco Central Europeu. Em relação aos critérios do Banco Central do Brasil, não há regras que funcionem para analisar os riscos climáticos e sociais da cadeia produtiva. Incorporamos isso de forma equilibrada, levando em consideração tanto as tendências do mercado europeu onde estamos sediados quanto as regulamentações do Banco Central do Brasil. A principal forma de olhar a sustentabilidade dentro de uma análise de crédito é como podemos apoiar e estreitar o relacionamento com nossos clientes, ajudando-os na transição para uma agricultura e pecuária mais sustentável e com maior eficiência no uso da terra.
P: Você acabou de mencionar que o Rabobank opera sob as regras do Banco Central Europeu, e acredito que também esteja ciente da nova lei, o Green Deal, recentemente aprovado pelo Parlamento Europeu. Os países têm 18 meses para cumprir essas novas regras. Um pilar importante é a rastreabilidade. Teremos que começar a provar e adaptar para mostrar que toda a cadeia de grãos e pecuária está sendo produzida dentro de importantes parâmetros socioambientais desde o nascimento até o abate no caso do gado. Como você vê essa questão?
T: Acredito que as mudanças climáticas e seus piores efeitos afetam a todos. É talvez o ponto mais democrático quando falamos de questões de sustentabilidade. O clima afeta todos os produtores e certamente terá impacto se não houver mudança na forma como a economia está baseada atualmente. O Rabobank faz parte de uma iniciativa global chamada Nets Yield Bank Alliance, que é uma aliança global de bancos com foco na redução de emissões líquidas a zero até 2050. Essa aliança, da qual o Rabobank participa, é altamente relevante e está ligada às aspirações e objetivos da a União Européia, que busca reduzir as emissões associadas ao Brasil, principalmente relacionadas à conversão do uso da terra ou ao desmatamento vinculado a commodities importadas para o mercado comum europeu. Due diligence, ou seja, sistemas de rastreabilidade para garantir que esses produtos, sejam eles soja, oleaginosas, café, carne bovina ou qualquer outra proteína animal, terão que apresentar diligências quanto à rastreabilidade de seu processo produtivo. Acreditamos que o Brasil está bem preparado.
P: Você acredita que o mercado de créditos de carbono ele pode vir como uma uma ferramenta para realmente trazer recursos para o para os produtores implementarem práticas sustentáveis?
T: Na minha opinião, sim. Eu acredito que o mercado de carbono pode ser uma ferramenta muito relevante para o produtor brasileiro, reconhecendo as práticas de conservação que já existem hoje referente ao Código Florestal. Então, eu acredito que o mercado de carbono, ele é uma ferramenta extremamente relevante para outras atividades também, como restauração, ou seja, recomposição e restauração do déficit de reserva legal também pode fazer parte desse universo de oportunidades. E eu acho que o mais importante é entender que esse cenário de mercado de carbono sobre a regulação do Acordo de Paris é muito recente. Ele começou e a partir de 2021, então nós estamos ainda no início de jornada até 2020. A gente ainda teve a regulação que estava sobre o antigo Protocolo de Kyoto. Então eu entendo que é importante para o produtor ter tranquilidade, ter consciência que é um mercado que está começando. As oportunidades virão e eu deixo aqui um convite para o produtor e para as empresas, na verdade, começarem a entender qual é a sua pegada de carbono. Gerar crédito de carbono, entender a sua pegada, entender quais são as suas fontes de emissão, quais são as suas fontes de sequestro de CO2 para começar a capturar as oportunidades que estão por vir. Esse mercado ainda vai ter, com certeza, uma forte maturidade em termos de taxonomia. Em termos de regras, isso ainda está por vir. Então, existe um movimento muito forte hoje para que isso aconteça.