Sistemas agroflorestais: o que são, como funcionam?
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, José Ricardo Macedo, explica que através dos sistemas agroflorestais o solo é conservado e o produtor consegue ter uma diversificação de renda
Existe um modelo produtivo sustentável que vem despertando cada vez mais interesse no setor agropecuário: as agroflorestas. Mas você sabe o que ela é e, principalmente, os benefícios para o produtor?
O que são os sistemas agroflorestais?
Eles são caracterizados pelo uso de árvores em conjunto com qualquer outro cultivo. Dessa forma, melhora a rentabilidade e promove a preservação ambiental. Um exemplo, na prática, é o café sombreado cultivado na Fazenda Retiro Santo Antônio no interior de São Paulo.
“Então aqui, colocamos pés de Ingá e Pau d’Alho, além de algumas Aroeiras, que se combinaram bem com o café. Apesar de o abacate não ser nativo, ele se mostrou uma das escolhas mais eficazes para este consórcio com o café. Temos um pé de café centenário no meio de uma lavoura de café, e isso é incrível. Os cafezais mais bonitos da Fazenda São ficam sob esses abacateiros.”
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, José Ricardo Macedo, explica que através dos sistemas agroflorestais o solo é conservado e o produtor consegue ter uma diversificação de renda.
“Ao sair da monocultura e adotar o sistema agroflorestal, o produtor passa a ter duas espécies gerando produtos. Isso é uma vantagem para ele, pois agora tem a opção de mercado para duas espécies. Além disso, há benefícios para o solo, pois as árvores, especialmente aquelas na lavoura, ocupam camadas diferentes no solo. As árvores têm raízes mais profundas, explorando uma região do solo que as plantas da lavoura não alcançam com suas raízes superficiais. Isso funciona como uma bomba de nutrientes, trazendo nutrientes da profundidade para a superfície. Quando as folhas das árvores caem, ocorre uma ciclagem desses nutrientes, melhorando as características do solo.”
As florestas são essenciais nesses manejos. Mas atenção, produtor. O primeiro critério para escolher esse componente é definir qual o papel da árvore no sistema.
Existem três pilares para auxiliar essa escolha:
“Primeiro, vou usar essa árvore, seja para melhorar o meio ambiente de uma área que estou cultivando, ou vou querer gerar um subproduto com essa árvore. Isso é um critério importante, pois me permite optar por uma espécie mais comercial ou uma espécie que busque simplesmente a melhoria do ambiente. O segundo critério de escolha é a região em que estou, pois o Brasil apresenta uma variedade de regiões com diferentes condições climáticas, como variações de temperatura e pluviosidade. A espécie que escolher deve estar adaptada àquela região, levando em consideração as condições climáticas locais”, conta o pesquisador.
Segundo o pesquisador, o terceiro ponto importante para decidir qual espécie plantar envolve a questão da comercialização. Por exemplo, posso produzir uma determinada árvore ou produto florestal, mas se minha região não absorverá esse produto, não será viável. Portanto, a escolha da espécie precisa considerar esses três aspectos: finalidade, adequação climática e potencial de comercialização.
Por que não é mais utilizado?
Apesar dos sistemas agroflorestais já serem bastante conhecidos, a inclusão das árvores nos sistemas produtivos ainda é um desafio para muitos produtores.
“A inserção da árvore no sistema de produção exige cuidados técnicos, assim como qualquer cultura agrícola. Portanto, introduzir essa prática traz uma nova realidade de produção para o produtor. É necessário fornecer técnicas de adubação, controle de pragas e doenças. Isso pode gerar certo receio por parte do produtor, pois ele precisará enfrentar um novo processo produtivo. No entanto, as vantagens desse sistema valem a pena.”
Segundo a Embrapa, os sistemas agroflorestais são um dos mais antigos modos de produção da cultura no mundo, muito difundido na Colômbia, Costa Rica, Guatemala, El Salvador e México, caracterizados pelo baixo impacto ambiental.
No caso de Jefferson, produtor do interior de São Paulo, o sistema agroflorestal foi aprovado e traz uma grande contribuição para as futuras gerações.
“Todos nós devemos contribuir para a preservação do planeta. Se ficarmos apenas esperando os governantes tomarem medidas, nosso planeta não terá uma vida longa. Tenho filhos pequenos, assim como muitos produtores, e sei que precisamos fazer a nossa parte. Ajudar o meio ambiente significa ajudar a preservar o planeta. Estamos enfrentando impactos significativos das mudanças climáticas aqui na zona rural, como chuvas de granizo intensas e recentes geadas. Não podemos ignorar que somos parte do problema e estamos contribuindo para essas mudanças climáticas. Apenas evitar que a situação piore não é suficiente; não temos mais tempo a perder. Precisamos agir rapidamente para regenerar o planeta.”