Palavra de Especialista

ESG: Como a sustentabilidade pode ser a chave para o futuro da produção rural

ESG não é inimigo do agronegócio, mas sim uma ferramenta estratégica que pode impulsionar a competitividade, sustentabilidade e o lucro no campo.

ESG: Como a sustentabilidade pode ser a chave para o futuro da produção rural

Nos últimos meses, o conceito de ESG (ambiental, social e governança) tem sido alvo de críticas no setor agropecuário. Muitos questionam a relevância dessas práticas para a produção agrícola, apontando o ESG como uma ameaça à lucratividade e sugerindo que se trata de um modismo ou até um movimento ideológico. Mas será que essas críticas fazem sentido? Afinal, será que o Agro brasileiro não deveria liderar essa agenda, considerando tudo o que já faz pela sustentabilidade e as enormes possibilidades que ainda existem?

Essas questões serão analisadas a fundo no quadro “Palavra de Especialista”, com Renato Rodrigues, que separa mitos da realidade e mostra como o ESG pode ser um grande aliado do agro, não um obstáculo. Ao contrário do que muitos pensam, sustentabilidade e lucro podem andar de mãos dadas. O pilar econômico da sustentabilidade é fundamental, e o Agro brasileiro já pratica ESG, embora muitas vezes de forma não formalizada ou não valorizada.

O ESG no Agro: Mito ou Realidade?

O ESG se tornou um tema polêmico, principalmente por tocar em questões ambientais, sociais e de governança em tempos de polarização. A discussão sobre ESG no Brasil, como em outros lugares do mundo, gera reações diversas. Muitas críticas vêm de uma falta de compreensão sobre o que realmente é o ESG. Quando as pessoas não entendem algo, muitas vezes criticam, o que pode gerar uma série de equívocos sobre o impacto dessas práticas no campo.

Uma das principais críticas ao ESG é que ele impõe restrições desnecessárias ou burocracia excessiva aos produtores rurais. Alguns defendem que o modelo tradicional de negócios agrícolas, baseado em métodos que priorizam apenas o lucro imediato, seria mais eficiente e menos burocrático. Entretanto, é importante questionar se essa visão ainda é viável no contexto atual. O mercado global está cada vez mais exigente e as práticas sustentáveis são um fator determinante para o acesso a mercados, especialmente em países e empresas que demandam rastreabilidade, redução de emissões de carbono e outras boas práticas ambientais.

Além disso, setores que não desejam mudanças sustentáveis também podem demonizar o ESG, visto que a adaptação para um modelo mais sustentável pode afetar seus negócios tradicionais. E, em alguns países, o ESG foi erroneamente rotulado como uma pauta ideológica, quando na verdade ele trata de eficiência, competitividade e inovação no campo.

A Realidade: O Agro Brasileiro Já Pratica ESG

A realidade é bem diferente. O ESG não é o inimigo da produção agropecuária. Pelo contrário, o Agro brasileiro já aplica práticas de ESG há muito tempo. Contudo, muitas vezes esses conceitos não são formalizados ou não são devidamente comunicados. O Brasil, especialmente, tem um potencial enorme de liderar essa agenda, dado o papel fundamental que o país desempenha na produção agrícola mundial.

Por exemplo, muitos produtores brasileiros têm adotado práticas de agricultura de baixo carbono, como o uso de pó de rocha, que contribui para a remineralização do solo. Essa prática não só melhora a fertilidade do solo e a resistência das plantas a pragas, mas também reduz a dependência de fertilizantes convencionais e gera crédito de carbono, o que contribui para a sustentabilidade do processo produtivo.

Outro exemplo importante é a integração lavoura-pecuária-floresta, um modelo de produção sustentável que integra diferentes sistemas produtivos no mesmo território, aumentando a produtividade de forma responsável, sem desmatamento ou degradação ambiental.

Essas práticas não são apenas boas para o meio ambiente; elas também trazem resultados econômicos. O ESG, bem aplicado, melhora a eficiência da produção, reduz custos e oferece ao produtor a chance de vender seus produtos a preços mais altos, além de abrir portas para mercados internacionais. O acesso a esses mercados exige rastreabilidade, boas práticas sociais e ambientais, e um compromisso com a descarbonização da cadeia produtiva.

ESG Como Oportunidade: Mercado, Investimentos e Eficiência

No contexto atual, a adoção do ESG pelo Agro brasileiro é uma grande oportunidade para se posicionar como um líder global. Grandes bancos e fundos internacionais priorizam investimentos em empresas e negócios alinhados a essas práticas, reconhecendo que a sustentabilidade é um diferencial competitivo no mercado.

Além disso, empresas que aplicam ESG de forma eficaz têm mais chances de atrair investimentos, como os fundos de carbono, que estão crescendo no cenário mundial. As boas práticas de governança e a adoção de sistemas digitais de rastreabilidade e bioinsumos também garantem maior competitividade e visibilidade para os produtores no mercado.

A Agricultura de Baixo Carbono, os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, o uso de bioinsumos, e a rastreabilidade digital são exemplos claros de como o Agro pode gerar ganhos de eficiência e sustentabilidade ao mesmo tempo. A chave está em comunicar essas ações de forma clara e estratégica, valorizando o compromisso com a sustentabilidade e mostrando que, no Agro, é possível alcançar lucratividade sem comprometer o meio ambiente ou os direitos sociais.

O Agro Pode Ser o Exemplo de Sustentabilidade com Rentabilidade

A conclusão é clara: o ESG não é contra o Agro. Pelo contrário, é uma ferramenta estratégica que pode garantir ao produtor mais acesso a mercados, melhores financiamentos e maior valorização dos seus produtos. O Agro brasileiro tem todas as condições para se tornar uma referência global em ESG, mostrando que a sustentabilidade pode, sim, andar de mãos dadas com a rentabilidade.

Portanto, da próxima vez que alguém disser que o ESG é inimigo do Agro, questione: o que é mais vantajoso para o produtor? Ignorar as exigências do mercado e perder competitividade ou liderar a agenda ESG e se tornar um exemplo de sustentabilidade e rentabilidade?

O Agro brasileiro já faz muito por essa agenda. Agora, cabe a todos nós mostrar isso ao mundo.