
A inteligência artificial está transformando o agronegócio brasileiro. E essa revolução acaba de dar mais um passo com o lançamento oficial do programa Carbono Xingu, uma iniciativa que une IA, agricultura regenerativa e grandes fazendas da região do Xingu, no Mato Grosso. O diferencial? O uso da mesma tecnologia empregada pela NASA em Marte para analisar o solo e gerar créditos de carbono auditáveis.
O programa nasce de uma parceria entre SLC Agrícola, Agro Penido, Agrorobótica e Embrapa Instrumentação, e foi apresentado ao público nesta quarta-feira (23), no CarbonDay, evento transmitido ao vivo pelo YouTube. Essa união entre ciência, tecnologia de ponta e compromisso ambiental marca o início de uma nova fase na transição verde do agro brasileiro.
Solo como ativo ambiental
O projeto vai monitorar uma área de 8.916 hectares nas fazendas Darro, Água Viva e Pioneira, utilizando o sistema AGLIBS, desenvolvido pela Agrorobótica com a Embrapa Instrumentação. A tecnologia é a primeira no mundo capaz de digitalizar de forma simultânea o carbono e a fertilidade do solo, com base em espectrometria a laser e inteligência artificial.
Com capacidade para analisar mil amostras por dia e avaliar 23 parâmetros do solo, o sistema entrega recomendações agronômicas completas, em segundos. As informações são armazenadas na nuvem e transformadas em laudos, que orientam o manejo sustentável.
“A plataforma de IA AGLIBS transforma o solo em um ativo digital, permitindo ao agricultor gerar créditos de carbono, aumentar a produtividade e acessar crédito verde com melhores condições”, afirma Fábio Luiz de Angelis, CEO da Agrorobótica.
Essa digitalização do solo promove decisões rápidas, rastreáveis e com grande impacto econômico e ambiental. Além disso, a metodologia usada no programa é certificada pela Verra VM0042, padrão internacional que garante a rastreabilidade e a validade dos créditos de carbono emitidos.
Para a CTO da Agrorobótica, Aida Guimarães, o desenvolvimento da tecnologia utilizada no Carbono Xingu foi um desafio multidisciplinar e completamente inédito.
“Toda essa tecnologia precisou ser desenvolvida do zero. E o desafio no processo de transferência tecnológica não foi apenas técnico — relacionado à criação de um equipamento capaz de medir amostras de solo em escala —, mas também envolveu a análise de dados, onde integramos inteligência artificial, aprendizado de máquina e mineração de informações”, explica.
Transição verde com rentabilidade
A proposta do Carbono Xingu é ambiciosa: valorizar o solo como ativo ambiental e transformar propriedades rurais em usinas de sequestro de carbono, contribuindo diretamente com a meta de emissões líquidas zero até 2050.
“Ao longo dessa jornada até 2050, precisamos reduzir as emissões e aumentar as remoções de carbono. O projeto Carbono Xingu caminha exatamente nessa direção, reforça o CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato.
O programa também reforça a integração entre práticas sustentáveis como plantio direto, uso de bioinsumos e sistemas integração lavoura-pecuária. Tudo isso sem abrir mão da produtividade — ao contrário, o solo mais saudável gera mais resultado e mais valor de mercado.
“O carbono surge como essa nova commodity — tão desejada, tão anunciada — e agora começa a se materializar no nosso solo, nas nossas reservas, na restauração de APPs e em uma produção baseada nas boas práticas agropecuárias, destaca o pecuarista Caio Penido.
Benefícios diretos aos produtores
Entre os resultados esperados do Carbono Xingu, estão:
- Geração de créditos de carbono no solo;
- Acesso facilitado a crédito verde com melhores condições;
- Aumento da produtividade e rentabilidade;
- Valorização da propriedade rural;
- Produção de commodities sustentáveis com maior valor de mercado.
O solo, muitas vezes visto apenas como suporte físico para a lavoura, agora assume um novo protagonismo: o de ativo ambiental estratégico na economia de baixo carbono.
A força da cooperação
A história do Carbono Xingu começou há uma década, com o primeiro contato entre a Embrapa e a Agrorobótica. A parceria amadureceu e evoluiu, resultando na criação de uma tecnologia inédita e adaptada à realidade da agricultura tropical em larga escala.
“Agora acompanhamos, com grande entusiasmo, a parceria entre a SLC, Agro Penido e Agrorobótica, que vai levar a tecnologia inovadora, desenvolvida em nossos laboratórios, para contribuir com uma agricultura cada vez mais sustentável no Brasil”, afirma José Manoel Marconcini, chefe-geral da Embrapa Instrumentação.