São Paulo sediou nesta quinta-feira (3) a primeira plenária de 2025 da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. O evento marcou os 10 anos da rede multissetorial que reúne empresas, organizações da sociedade civil, instituições de pesquisa e representantes do setor produtivo para promover um campo mais sustentável e conectado às metas climáticas.
Em um ano decisivo para o debate ambiental, com a COP 30 marcada para novembro em Belém (PA), a Coalizão reforça sua importância como espaço de diálogo e construção de soluções entre economia, meio ambiente e agronegócio.
Atualmente, são mais de 400 organizações engajadas em 12 forças-tarefa temáticas. Só nos últimos anos, essas frentes realizaram cerca de 900 reuniões para debater políticas públicas, crédito de carbono, restauração florestal, rastreabilidade e caminhos para uma agricultura de baixo carbono.
Durante a plenária, os participantes destacaram que o momento exige menos discurso e mais implementação. As soluções técnicas, jurídicas e financeiras já existem. O desafio agora é escalar e aplicar com eficiência.
“Quando falamos com os principais líderes internacionais da agenda climática, todos reconhecem que já temos grande parte – se não todo – do arcabouço desejado. O risco, neste momento, é de retrocesso”, afirmou o High Level Champion da COP 30, Dan Loschpe.
Agro e meio ambiente: superar a polarização
Para Marcelo Brito, secretário executivo do Consórcio da Amazônia Legal e enviado especial da COP 30, um dos principais obstáculos ainda é o distanciamento entre produção e conservação. Ele lembrou que o Brasil tem avançado na implementação de práticas mais sustentáveis, mas ainda enfrenta resistência de setores polarizados.
“O eixo agroambiental ainda é visto de forma pejorativa por ambos os lados mais radicais do debate. Mas é justamente esse o papel da Coalizão: existir, persistir e abrir espaço para o diálogo técnico, baseado em evidências”, afirmou Brito.
Nos últimos anos, o país deu passos importantes em temas como descarbonização, ampliação da agricultura de baixo carbono e abertura de linhas de financiamento verde. O uso de tecnologias para aumento de produtividade com menor impacto ambiental também tem crescido. No entanto, segundo Brito, os desafios seguem grandes, especialmente na conciliação entre conservação e geração de renda no campo.
Crise climática já impacta o campo
A crise do clima também esteve no centro da discussão. De acordo com André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o aquecimento global já está afetando diretamente a produtividade agrícola no Brasil.
“O problema deixou de ser um alerta para o futuro. É uma realidade concreta no campo brasileiro. Em algumas regiões da Amazônia e do norte do Cerrado, já observamos aumento médio de 4 °C nos últimos 10 ou 15 anos”, destacou Guimarães.
Segundo estudos do IPAM, a cada grau de aumento na temperatura, culturas como a soja perdem cerca de 6% de produtividade. No caso do milho, a queda pode chegar a 8%. Isso afeta diretamente a competitividade do agro brasileiro e expõe a urgência de medidas que garantam resiliência e adaptação às mudanças climáticas.
Papel do setor privado: escalar soluções
Representando o setor privado, LIEG, diretora de sustentabilidade da JBS, ressaltou a necessidade de sair da fase de pilotos e provas de conceito. Para ela, o foco agora deve ser em aplicação prática e compartilhamento de soluções.
“A gente já sabe o que funciona. O desafio é escalar e democratizar esse conhecimento, principalmente entre os pequenos produtores. Porque não vamos avançar só com os grandes. Se os pequenos ficarem para trás, todo o sistema perde”, afirmou a diretora de Sustentabilidade da JBS, Liége Vergili Correia.
Ela destacou que, na cadeia da pecuária, os produtores de bezerro – em sua maioria pequenos – estão ficando esquecidos. “Costumo dizer que é como um trem subindo o morro: os vagões de trás estão ficando para trás. Precisamos garantir que todos subam juntos.”
A fala sintetiza um dos compromissos centrais da Coalizão: promover inclusão produtiva com sustentabilidade, sem deixar ninguém de fora.
Rumo à COP 30
Com a COP 30 se aproximando, a expectativa é que o Brasil assuma papel de liderança global. Para isso, a implementação das agendas debatidas ao longo da última década será fundamental.
Os participantes da plenária defenderam que o país avance com uma agenda concreta, mostrando capacidade de entregar resultados e articular políticas públicas eficazes. O encontro serviu como um termômetro e, ao mesmo tempo, um ponto de partida para o que está por vir nos próximos meses.
A mensagem principal é clara: as soluções estão na mesa. O que falta é vontade política e coordenação para colocá-las em prática, de forma colaborativa.