Como as boas práticas agrícolas podem aumentar o sequestro de carbono e combater as mudanças climáticas

Carlos Eduardo Cerri, especialista em ciência do solo, revela como práticas agrícolas como o plantio direto e a recuperação de pastagens podem contribuir para o sequestro de carbono e tornar o agronegócio brasileiro mais sustentável.

Como as boas práticas agrícolas podem aumentar o sequestro de carbono e combater as mudanças climáticas

O agronegócio brasileiro, reconhecido por sua produtividade, tem se tornado cada vez mais um pilar fundamental na luta contra as mudanças climáticas. De acordo com o Prof. Carlos Eduardo Cerri, do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ e coordenador do CCARBON (Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical), o Brasil já desempenha um papel de destaque na adoção de práticas agrícolas que ajudam a sequestrar carbono e mitigar os efeitos do aquecimento global.

Em uma entrevista exclusiva ao programa Planeta Campo, Cerri compartilhou os resultados de um estudo recente que aponta que práticas como o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas e os sistemas integrados têm um impacto positivo significativo na captura de carbono do solo.

O Impacto das Boas Práticas Agrícolas

Segundo o professor, o estudo envolveu uma ampla pesquisa em diversas regiões das Américas, incluindo dados de mais de 13.000 artigos científicos. No entanto, ao analisar as informações disponíveis, os pesquisadores encontraram dados completos apenas em cerca de 5% dessa quantidade total, o que destaca a falta de informações robustas sobre o potencial do sequestro de carbono na agricultura.

Apesar disso, o estudo identificou três práticas agrícolas que desempenham um papel crucial no sequestro de carbono:

  1. Plantio Direto: Ao evitar o revolvimento do solo e manter a cobertura de palha, essa técnica favorece a captura de carbono e melhora a qualidade do solo.
  2. Recuperação de Pastagens Degradadas: A regeneração das pastagens é essencial para aumentar a capacidade do solo em capturar carbono.
  3. Sistemas Integrados: A combinação de culturas agrícolas com a pecuária aumenta a eficiência do uso do solo e contribui para o sequestro de carbono.

O Papel do Brasil

O Brasil se destaca no cenário mundial com uma vasta área dedicada ao plantio direto, uma das práticas mais eficazes para a captura de carbono. O país lidera com aproximadamente 33 milhões de hectares nessa prática, seguido pelos Estados Unidos e Argentina.

A adoção dessas práticas em grandes áreas é um indicativo positivo de que o agronegócio brasileiro está no caminho certo para se tornar mais sustentável e eficiente. O professor Cerri destacou que, se o plantio direto for bem executado, pode-se sequestrar até 500 kg de carbono por hectare, o que, quando multiplicado pelas áreas agrícolas do Brasil, representa uma contribuição relevante para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

O Futuro do Sequestro de Carbono

Embora os efeitos das boas práticas agrícolas sejam visíveis em poucos anos, Cerri alerta que o processo de sequestro de carbono no solo é contínuo e leva décadas para atingir seu máximo potencial. Após 20 a 30 anos, o solo entra em um estado de equilíbrio, e, para que o sequestro continue, novas práticas ou ajustes precisam ser implementados.

O estudo também aponta que os resultados podem influenciar políticas públicas e incentivar mais agricultores a adotar essas práticas. Cerri ressalta que iniciativas como o RenovaBio, o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono e o Plano Safra têm potencial para impulsionar ainda mais a adoção de técnicas sustentáveis em larga escala.

A Contribuição para o Agronegócio Sustentável

O sequestro de carbono no solo não é apenas uma solução ambiental, mas também um fator estratégico para a sustentabilidade da produção agrícola e pecuária. Ao adotar essas boas práticas, os produtores conseguem aumentar a resiliência de seus sistemas agrícolas, melhorar a qualidade do solo e reduzir custos com insumos.

Para o professor Carlos Eduardo Cerri, a chave para o sucesso é a disseminação de informações e o incentivo à adoção de práticas regenerativas. “Os produtores rurais precisam entender que os benefícios das boas práticas não são imediatos, mas, uma vez implementadas, elas tornam o sistema de produção mais resiliente e sustentável”, afirma o especialista.

O agronegócio brasileiro tem, portanto, a oportunidade de se tornar um modelo global de agricultura sustentável e de mitigação das mudanças climáticas, contribuindo para um futuro mais verde e saudável para todos.