
No coração do arquipélago do Marajó, no Pará, um projeto pioneiro está mudando a vida de mais de 470 famílias agroextrativistas. Uma agroindústria com energia solar acaba de ser inaugurada na comunidade da Ilha das Cinzas, operando com sistema de baterias e energia 100% limpa. A iniciativa é fruto da parceria entre a Natura, a empresa de tecnologia WEG e a associação de produtores locais (ATAIC).
O empreendimento é o primeiro do tipo em uma área de várzea amazônica, região marcada por isolamento e desafios logísticos severos, especialmente no fornecimento de energia. A nova estrutura permite o processamento de óleos e manteigas vegetais a partir de sementes nativas como andiroba e murumuru — agregando valor à produção local e promovendo autonomia para as comunidades.
Bioeconomia com protagonismo feminino e jovem
Segundo Mauro Costa, gerente sênior de relacionamento e abastecimento da sociobiodiversidade da Natura, a iniciativa representa um marco para a bioeconomia de base comunitária.
“É um avanço concreto. A região tinha forte dependência de geradores a diesel. Com a agroindústria solar, mostramos que é possível fortalecer a bioeconomia mesmo em áreas remotas”, afirmou Mauro durante entrevista ao Planeta Campo.
A mudança no modelo de produção — que antes se baseava na venda de sementes — agora permite a comercialização de óleos e manteigas vegetais, elevando o valor agregado e a renda da comunidade.
“O ganho financeiro direto chega a 60% de aumento no faturamento, mesmo mantendo o mesmo volume de matéria-prima”, revelou Mauro.
Além disso, o projeto se destaca por promover a sucessão geracional e o protagonismo feminino. Jovens da comunidade foram capacitados para operar toda a parte tecnológica da agroindústria, enquanto mulheres seguem ocupando cargos de liderança na gestão da cooperativa e nas etapas da cadeia produtiva.
Um exemplo de sustentabilidade para a Amazônia
A iniciativa da Natura, WEG e ATAIC está alinhada às pautas centrais da transição energética e da inclusão social no campo. A agroindústria solar na Ilha das Cinzas mostra que é possível unir tecnologia limpa, valorização do conhecimento tradicional e desenvolvimento econômico sustentável.
O projeto também é uma resposta concreta à urgência de soluções para os desafios amazônicos, provando que a infraestrutura energética descentralizada pode viabilizar a permanência das comunidades no território com qualidade de vida, protagonismo e renda.
“A Ilha das Cinzas já era um exemplo de soluções sustentáveis. Agora, reforçamos esse histórico com energia limpa, inclusão produtiva e mais oportunidades para jovens e mulheres”, destacou Mauro.
Perspectivas de expansão e impacto positivo
Com os primeiros resultados sendo avaliados de forma positiva, o modelo poderá servir de referência para outras comunidades amazônicas que enfrentam os mesmos desafios. A expectativa da Natura é ampliar esse modelo de agroindústrias sustentáveis com energia renovável para outras regiões da Amazônia, fomentando cadeias produtivas da sociobiodiversidade.
A nova etapa representa mais que uma solução técnica — é uma estratégia de preservação do bioma com inclusão socioeconômica, colocando a bioeconomia como ferramenta chave para o futuro sustentável da floresta.