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Carbono, agro e futuro: como o Brasil pode liderar a transição ambiental

Carbono, agro e futuro: como o Brasil pode liderar a transição ambiental

O Brasil tem todas as condições de liderar a agenda ambiental no agro, mas ainda precisa comunicar melhor o que já faz bem. Essa é uma das principais reflexões de Renato Rodrigues, ex-pesquisador da Embrapa e hoje head de Agribusiness na TerraDot. Em entrevista ao Planeta Campo Talks, ele compartilhou sua trajetória no campo da ciência, das políticas públicas e do mercado de carbono, destacando os desafios e caminhos para tornar o agro brasileiro ainda mais sustentável — e valorizado por isso.

Da ciência à prática no campo

Renato é biólogo por formação, mas logo no início da carreira optou por atuar nas interseções entre meio ambiente, agricultura e mudança climática. “Nunca quis ser um superespecialista em um único tema. Sempre quis conectar áreas e traduzir ciência em ação”, disse. Atuou no PNUD, no governo federal e por 12 anos na Embrapa, onde liderou pesquisas com emissões de gases de efeito estufa, ILPF e carbono no solo.

Sua experiência em negociações internacionais começou ainda no Protocolo de Kyoto, passando por participações em COPs decisivas. “A COP 30 será intensa, e o Brasil terá a oportunidade de protagonizar a pauta do financiamento climático”, destaca. Para isso, ele defende uma atuação técnica, estratégica e baseada em resultados concretos.

O agro faz, mas não comunica

Segundo Renato, o agro brasileiro já pratica a sustentabilidade de forma consistente, mas ainda falha na comunicação. “Temos integração lavoura-pecuária, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, mas isso não chega de forma clara ao consumidor e aos fóruns globais.” Para ele, a solução passa por três pilares: financiamento, capacitação e mercado.

O produtor precisa de acesso ao crédito para recuperar pastagens e adotar novas práticas. Também precisa de informação e assistência técnica, algo que ainda falta no país. Por fim, o mercado precisa valorizar produtos sustentáveis com diferenciação real de preço. “Se o consumidor quer um produto responsável, precisa pagar por isso”, resume.

Crédito de carbono e ESG na prática

Renato explica que o mercado de crédito de carbono tem potencial enorme, mas exige cuidado e orientação. “É um mercado complexo, técnico, e o produtor sozinho dificilmente acessa. O ideal é integrar projetos estruturados com empresas sérias.” A TerraDot atua com o intemperismo acelerado de rochas, usando o pó de rocha como tecnologia para capturar carbono de forma permanente e aumentar a fertilidade do solo.

O ESG também ganha força no agro, mas para ser efetivo, precisa nascer da governança, segundo Renato. “Não adianta adotar práticas sustentáveis sem planejamento estratégico. O produtor rural é uma empresa e precisa se organizar como tal.” Ele recomenda inclusive a criação de conselhos consultivos nas fazendas, com especialistas em sustentabilidade, finanças e sucessão.

Oportunidades e inspiração

Sobre o futuro, ele destaca dois caminhos: adaptação ao clima e geração de valor pela mitigação. Melhoramento genético, novas práticas e crédito de carbono são parte da resposta. E para os jovens interessados em atuar nessa área, o conselho é claro: “Estudem diferentes temas, busquem conexões, se envolvam com pessoas e escolham algo que os apaixone”.

Renato finaliza a entrevista com uma mensagem sobre igualdade e propósito: “Não adianta a sociedade evoluir em tecnologia e continuar falhando em justiça social. O agro tem um papel crucial nisso. Tudo começa pela comida. E a sustentabilidade é o caminho”.