NAPI RESTORE

Com ciência e inovação, Paraná lidera restauração da Mata Atlântica

Projeto liderado por pesquisadores brasileiros, franceses e alemães usa microrganismos e nanopartículas para restaurar áreas degradadas e enfrentar os efeitos da seca.

Com ciência e inovação, Paraná lidera restauração da Mata Atlântica

A restauração da Mata Atlântica ganhou um novo aliado: a ciência. No Paraná, o projeto NAPI RESTORE tem desenvolvido soluções inovadoras para recuperar ecossistemas degradados e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Em entrevista ao Planeta Campo, o pesquisador Carlos André Stuepp, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, explicou como a tecnologia tem contribuído para reduzir a mortalidade de mudas nativas e aumentar a eficiência do reflorestamento.

O trabalho reúne especialistas do Brasil, França e Alemanha e aposta em soluções baseadas na natureza, como o uso de microrganismos do solo e o desenvolvimento de nanopartículas biodegradáveis. Esses insumos são aplicados no processo de produção e plantio de mudas, oferecendo maior resistência ao estresse hídrico — um dos principais desafios da restauração florestal.

Microrganismos aliados das mudas nativas

Um dos principais diferenciais do projeto é o uso de bactérias e fungos benéficos, que atuam na raiz das plantas estimulando o crescimento e a absorção de nutrientes. “Esses microrganismos produzem hormônios vegetais, como as auxinas, que ajudam na divisão celular e aumentam o sistema radicular das mudas”, explicou Stuepp.

Ao aplicar o que ele chama de comunidades sintéticas — combinação de diferentes microrganismos — os pesquisadores têm observado respostas ainda mais positivas, principalmente em espécies nativas como o jatobá, que teve mortalidade reduzida de 50% para zero em testes com nanopartículas de óxido nítrico.

Nanotecnologia e regulação hormonal

Além dos microrganismos, o projeto desenvolveu nanopartículas biodegradáveis que podem ser carregadas com substâncias como óxido nítrico, ácidos giberélico e indolbútirico. Esses compostos ajudam na regulação hormonal e na clonagem de plantas, promovendo maior vigor nas fases iniciais da restauração, quando as mudas são mais sensíveis à seca.

“As nanopartículas atuam como vetores para entregar os reguladores vegetais e os microrganismos de forma eficiente. É uma inovação que busca unir tecnologia e sustentabilidade”, destacou o pesquisador.

Superando falhas nas iniciativas de restauração

Dados indicam que cerca de 46% das tentativas de restauração florestal falham por conta de limitações ambientais, como secas severas e solos empobrecidos. Para mudar esse cenário, o NAPI RESTORE propõe um novo olhar: não basta plantar árvores, é preciso entender o ecossistema como um todo.

“Plantio por si só não resolve. Precisamos olhar para o solo, para a interação entre raízes, microrganismos e clima”, afirmou Stuepp. O projeto já isolou mais de 2.800 cepas de bactérias e fungos, com foco em promover o crescimento de mudas e a resistência à escassez de água.

Próximos passos e expansão para outros estados

Além dos bons resultados nos testes de campo, os pesquisadores têm observado aceitação positiva dos viveiros florestais, que veem nas soluções um caminho mais eficiente e econômico para a restauração ecológica. Em junho, será realizado um workshop com stakeholders na Universidade Estadual de Londrina, com o objetivo de expandir a aplicação do projeto para outras áreas da Mata Atlântica e também para outros estados brasileiros.

A meta do NAPI RESTORE é clara: reverter décadas de degradação por meio da ciência e da inovação, promovendo soluções acessíveis, sustentáveis e de impacto duradouro.