Hoje, 20 de maio, é o Dia Mundial das Abelhas — data criada pela ONU em 2017 para alertar o mundo sobre a importância vital desses insetos. Muito além do mel que consumimos, as abelhas são responsáveis por grande parte da polinização das plantas, o que garante frutas, flores e alimentos na mesa.
E se tem um lugar onde essa relação entre abelha e natureza salta aos olhos, é no cerrado brasileiro. Para entender melhor essa conexão, conhecemos a história de Walter Cruz Moreira, o “Abelha”, como todos o conhecem em Carolina (MA). Ele deixou para trás a vida de bancário em São Luís e se dedicou de vez à apicultura e ao turismo ecológico.
Há 36 anos, produz mel com e sem ferrão no Alto da Serra, dentro do Parque Nacional Chapada das Mesas, um dos pontos turísticos mais visitados no Sul do Maranhão. Hoje, é referência na região e presença constante em eventos como a Agrobalsas, em Balsas, no Maranhão, onde leva seu mel artesanal, fruto da rica florada do cerrado.
“Eu acredito que nós temos a maior florada do Brasil, em Carolina, no Maranhão. “Tem meses em que florescem 25 floradas diferentes, explica o apicultor e meliponicultor.
Sabores e aromas do Cerrado
A lista inclui piquí, melosa, mororó, assa-peixe, vassoura de botão (popularmente conhecida como cabeça de velho), fava de bolota e outras espécies nativas. Cada uma delas confere ao mel características únicas de sabor, aroma e coloração.
Entre os destaques está o mel amargo da fava de bolota, uma árvore nativa do Brasil com diversas propriedades medicinais.
“É um mel fantástico, meio amargo, por isso ele é até mais caro que qualquer outros méis, porque ele é amargo. Eu entendo que o amargo cura muita doença, né?”, afirma o apicultor.
Outro produto que chama atenção é o mel no favo produzido diretamente dentro do vidro. A técnica, iniciada por Walter em 2018, consiste em inserir uma lâmina de cera dentro do frasco, permitindo que a abelha construa o favo e armazene o mel no próprio recipiente. O resultado é uma iguaria de alto valor agregado.
Durante o Agrobalsas, realizado de 12 a 16 de maio, Walter também apresentou a tiúba, uma abelha sem ferrão nativa do Brasil. Considerada indígena, ela produz menos de um litro de mel por ano. Além do sabor suave, o produto se destaca pelas propriedades medicinais comprovadas por pesquisas da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
“É um mel que tem mais propriedades medicinais do que qualquer outro. E o mais curioso é que ela pode produzir mel claro ou escuro, dependendo da flor usada”, relata Walter.
Cerrado que floresce
O que torna tudo isso possível é o cerrado maranhense. Com uma combinação única de espécies vegetais que florescem assim que a estação das chuvas termina, a região se transforma em um verdadeiro berçário natural para as abelhas.
“Carolina tem muitas plantas que floram também no inverno, porque a nossa produção de mel só vem quando para de chover. Parou de chover, tudo floresce”, explica Walter. “Aí o cerrado é um aroma…cada flor com seu cheiro diferente.”
Apaixonado pelo que faz, ele também atua como guia turístico, levando visitantes para vivenciar a flora local e entender, na prática, como as flores do cerrado se transformam em mel. “Um dia tu vai andar no nosso cerrado aqui, eu vou te levar pra tu conhecer. Aí tu vai sentir que cheiro é esse, Walter? Aí eu vou te dizendo o nome das plantas…”