
O inverno de 2025 começa oficialmente na noite desta sexta-feira, por volta das 23h40, trazendo um alerta importante para o campo: os próximos 90 dias devem ser marcados por temperaturas acima da média e ausência de chuvas em grande parte do Brasil.
As informações vêm do boletim mais recente da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA), que projeta um período de neutralidade climática — ou seja, sem a atuação predominante do El Niño ou da La Niña —, mas com possibilidade de eventos extremos por conta do aquecimento dos oceanos.
O meteorologista Arthur Müller explica que o relatório da NOAA aponta 41% de chance de retorno da La Niña, o que ainda não está descartado, mas é improvável.
“Se a La Niña voltasse, isso poderia atrasar o início da chuva na primavera no Centro-Oeste e causar geadas tardias no Sul, afetando diretamente a colheita das lavouras de inverno”, afirma. No entanto, o cenário mais provável é mesmo de neutralidade.
A análise dos modelos climáticos reforça essa conclusão: a maioria das projeções indica uma condição neutra, com chuvas dentro da média histórica para cada região, retornando gradualmente ao Sudeste e Centro-Oeste a partir de setembro, e ao interior do Nordeste entre o final de setembro e outubro.
Ainda assim, a neutralidade não significa estabilidade. Pelo contrário, como destaca o meteorologia: “Os oceanos continuam muito aquecidos, e isso aumenta a quantidade de vapor d’água na atmosfera. Mais vapor, mais chance de temporais e de eventos extremos mesmo sem El Niño ou La Niña”.
Inverno quente e com riscos para o campo
O mapa de anomalia de temperatura para os meses de julho, agosto e setembro mostra praticamente toda a América do Sul com previsão de temperaturas acima da média. Isso não quer dizer que não fará frio em alguns dias, mas sim que, ao longo da estação, o calor deve predominar. Esse aquecimento combinado com a escassez de chuvas representa um risco direto para os produtores rurais.
A previsão é de pelo menos 60 dias com ausência quase total de precipitações, enquanto os termômetros podem ultrapassar os 38°C em regiões como o interior de São Paulo, Triângulo Mineiro e Mato Grosso.Além do estresse térmico para quem trabalha no campo, esse cenário também eleva o risco de queimadas.
“Com a baixa umidade do ar e os campos secos, qualquer faísca pode virar um incêndio. Às vezes, não é nem um cigarro jogado na estrada, mas o próprio maquinário da colheita pode provocar o fogo”, alerta.
As áreas mais sensíveis são aquelas em plena colheita da cana-de-açúcar e do milho segunda safra. É fundamental que os produtores reforcem os cuidados e estejam preparados para controlar focos de incêndio rapidamente. O alerta vale principalmente para o interior paulista, onde no ano passado os incêndios saíram do controle.
Reflexos na energia e no planejamento
O inverno seco também pressiona o custo da energia. Com a bandeira vermelha em vigor e reservatórios baixos, o produtor já sente no bolso. O uso consciente deve continuar até a volta das chuvas mais regulares na primavera.
Em comparação com o ano passado, o outono de 2025 foi relativamente mais tranquilo. Em abril e início de maio, algumas regiões ainda receberam chuvas. Mas a partir desta semana, o cenário muda: a umidade some e o calor se intensifica.
A tendência, segundo os meteorologistas, é de que os problemas relacionados ao clima, como as queimadas e o estresse térmico das plantas, comecem a se agravar justamente agora. Com isso o produtor deve considerar o cenário nas decisões sobre plantio, solo e insumos.
“Esse ano, a atmosfera até ajudou em abril, mas agora a situação muda. A gente vai começar a ter problemas mais sérios com o calor e a falta de chuva”, reforça Müller.