EM BUSCA DA ÁRVORE PERFEITA

Onde tudo começa: a ciência por trás de uma muda de eucalipto

Nossa equipe de reportagem visitou um dos mais avançados centros de tecnologia florestal do país, da Eldorado Brasil, em Andradina (SP)

Onde tudo começa: a ciência por trás de uma muda de eucalipto

A produção de mudas é uma das etapas mais estratégicas da cadeia florestal moderna. É nesse processo que se define o desempenho das futuras plantações, com impactos diretos sobre produtividade, sanidade e sustentabilidade.

Nossa equipe de reportagem visitou um dos mais avançados centros de tecnologia florestal do país, da Eldorado Brasil, em Andradina (SP), em uma imersão que resultou em uma série especial com três episódios.

Neste primeiro, você vai conhecer o início de tudo: a origem das mudas que, em pouco tempo, se transformarão em árvores robustas, saudáveis e sustentáveis, que são a base para a produção da celulose que abastece mercados nacionais e internacionais.

Viveiro

Tudo começa com as plantas-mãe, ou matrizes. São elas que fornecem os brotos que darão origem a novas árvores. A genética é cuidadosamente selecionada — são sete materiais genéticos utilizados, sendo quatro exclusivos da Eldorado Brasil.

O viveiro conta com cerca de 180 mil matrizes, que produzem entre 12 e 15 brotos por mês. Esses brotos têm genética superior, garantindo mudas mais fortes, resistentes a pragas e com crescimento rápido — características fundamentais para o sucesso das futuras plantações.

A responsabilidade de escolher os melhores brotos está nas mãos de profissionais experientes como Elisângela, que atua no setor de seleção. O cuidado na escolha garante um bom desempenho no campo e reduz perdas no futuro.

“Tudo começa eu pegando um broto bom aqui. Ele não pode ser tão pequenininho. Tem que ter um tamanho de 7 a 12 centímetros para ter força no plantio, para não se danificar”, explica.

Monitoramento constante

O ambiente do viveiro é 100% controlado. O sistema de irrigação combina gotejamento com microaspersão, oferecendo às plantas a umidade ideal. Um teto retrátil protege as mudas das variações climáticas mais extremas, como frio noturno, geadas e chuvas de pedra. Tudo é planejado para preservar o desenvolvimento das futuras árvores.

Mas mesmo com tanta tecnologia, o olhar humano ainda faz a diferença. “A planta já diz, né? A gente olha e sabe se ela está saudável ou doente. O monitoramento é contínuo. Todos os dias eu rodo os mini-jardins para ver a qualidade da planta”, conta Ester Maria, auxiliar de viveiro.

Plantio dos brotos

Depois da coleta, os brotos — ou microcepas — são inseridos em tubetes com substrato enriquecido com fertilizantes. O plantio exige precisão: o broto deve estar centralizado, permitindo que as raízes cresçam de forma uniforme. Essa etapa garante uma estrutura radicular forte e compacta, pronta para absorver nutrientes no campo.

Cada bandeja plantada é identificada e rastreável. Isso permite saber quem fez a coleta e o plantio, facilitando treinamentos e o aprimoramento contínuo dos processos. É um sistema que alia controle de qualidade e valorização do trabalho em equipe.

“Todas as bandejas plantadas são identificadas. Então nós podemos identificar quem foi a pessoa que fez, se precisa de mais algum treinamento ou alguma melhoria no processo”, reforça Valdemir Brunheroto, gerente de Silvicultura.

Crescimento em ambientes controlados

Na casa de vegetação, as mudas passam por cerca de 25 dias de enraizamento. A umidade e a temperatura são reguladas com exatidão, e a irrigação é feita por nebulização. Coberturas especiais filtram a luz solar, protegendo as mudas do excesso de calor e luz direta.

Em seguida, elas passam pela casa de sombra, onde permanecem por mais cinco dias. Essa transição prepara as plantas para o próximo desafio: o setor de pleno sol, onde enfrentarão um ambiente mais próximo da realidade do campo. Aqui, as mudas são separadas por tamanho — pequenas, médias e grandes — para crescerem em ritmo semelhante.

“Se você colocar uma muda grande junto com uma pequena, a grande cresce mais rápido, sombreia a outra e atrapalha seu desenvolvimento. Assim garantimos uma competição justa por luz e nutrientes”, explica Valdemir Brunheroto, gerente de Silvicultura.

Nos últimos 60 dias do ciclo, as mudas passam pelo processo de rustificação. É a fase final antes do plantio, quando recebem fertilizantes e irrigação para reforçar a resistência e a adaptação ao campo aberto. Em aproximadamente 90 dias, todo o ciclo no viveiro se completa.

Ao final, as mudas estão prontas para deixar o ambiente protegido e serem plantadas nas áreas de cultivo. Mas além das raízes, elas carregam um pouco do carinho e do compromisso de quem esteve com elas desde o primeiro broto.

“Às vezes a gente passa em um florestamento e sente orgulho de saber que pode ter alguma árvore ali que você mesmo coletou. Que você mesmo deu início a tudo”, finaliza Elisângela.