Efeito estufa: história científica e emissões pelo mundo da Revolução Industrial a 2024

Descubra como a história científica do efeito estufa revela a relação entre a revolução industrial e o aquecimento global que estamos enfrentando hoje. Desde as primeiras observações de Jean-Baptiste Fourier até as medições precisas de Charles David Keeling, entenda como os principais cientistas contribuíram para nosso conhecimento sobre os gases de efeito estufa. Este artigo detalha as emissões de CO₂ e outros gases pelo mundo, destacando as tendências recentes e os principais emissores. Prepare-se para uma viagem através de quase 200 anos de pesquisa que nos alertam sobre a necessidade urgente de mitigar os impactos climáticos.

https://www.youtube.com/watch?v=3K4rk_DBRm8

 

Introdução:

O efeito estufa é um fenômeno natural fundamental para a manutenção da vida na Terra, pois mantém a temperatura do planeta em níveis habitáveis. No entanto, as atividades humanas têm intensificado esse efeito, resultando em um aquecimento global que ameaça a estabilidade climática e ambiental. Neste artigo, exploraremos a história científica do efeito estufa e analisaremos as emissões de gases de efeito estufa pelo mundo, destacando os principais responsáveis e as tendências recentes.

Os gases de efeito estufa são essenciais para manter a Terra habitável, pois atuam como uma camada isolante que retém o calor na atmosfera, permitindo que o planeta mantenha uma temperatura média adequada para a vida. Sem esses gases, a temperatura média da Terra seria em torno de 15°C abaixo de zero, tornando o ambiente inóspito para a maioria das formas de vida. No entanto, o excesso de gases de efeito estufa, resultante das atividades humanas, intensifica esse efeito natural, causando o aquecimento global e desequilibrando o sistema climático da Terra.

Nos dias de hoje, esse é um tema quente (com perdão do trocadilho), vastamente discutido pela sociedade e noticiado pela imprensa do mundo todo. No entanto, a pesquisa sobre o tema está prestes a completar 200 anos e os pesquisadores a seguir foram alguns dos principais nomes:

A História Científica do Efeito Estufa:

Jean-Baptiste Fourier (1827): O entendimento do efeito estufa começou com Jean-Baptiste Fourier, que sugeriu que a atmosfera da Terra funcionava como uma estufa, retendo calor e regulando a temperatura do planeta. Fourier observou que certos gases na atmosfera poderiam aprisionar o calor, da mesma forma que o vidro de uma estufa mantém o calor dentro dela, estabelecendo a base para o conceito de efeito estufa.

John Tyndall (1860): Na década de 1860, John Tyndall aprofundou a pesquisa de Fourier ao identificar que gases como o vapor de água e o dióxido de carbono (CO₂) têm a capacidade de absorver e reter radiação infravermelha, contribuindo significativamente para o aquecimento da atmosfera. Tyndall demonstrou que esses gases permitem a entrada de radiação solar, mas impedem que o calor escape de volta para o espaço, aumentando a temperatura da superfície terrestre.

Svante Arrhenius (1896): O entendimento da relação entre a concentração de CO₂ na atmosfera e a temperatura global foi ainda mais esclarecido por Svante Arrhenius. Em 1896, Arrhenius calculou que uma duplicação da concentração de CO₂ na atmosfera resultaria em um aumento de temperatura de aproximadamente 5 a 6°C. Essa previsão destacou o impacto potencial das emissões de CO₂ no clima global e previu que as atividades humanas, ao liberar grandes quantidades de CO₂, poderiam aquecer significativamente o planeta.

Charles David Keeling (1958): A medição precisa dos níveis de CO₂ atmosférico começou em 1958 com Charles David Keeling, que estabeleceu um programa de monitoramento contínuo no Observatório de Mauna Loa, no Havaí. Os dados coletados por Keeling revelaram um aumento constante nas concentrações de CO₂, conhecido como a “Curva de Keeling”, que se tornou uma evidência incontestável do aumento das emissões de CO₂ devido às atividades humanas. Em 1958, a concentração de CO₂ era de aproximadamente 315 partes por milhão (ppm), e hoje, essa concentração ultrapassa 420 ppm, representando um aumento substancial desde os níveis pré-industriais de 280 ppm.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.37.08 | Planeta Campo

Figura 1: Curva de Keeling, com as concentrações de CO2 na atmosfera de 1958 a 2023. www.education.nationalgeographic.org/resource/keeling-curve/

O aumento da concentração de CO₂ e outros gases de efeito estufa, como o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O), é amplamente reconhecido como a principal causa do aquecimento global. Esses gases, ao se acumularem na atmosfera, criam um “cobertor” que impede a dispersão do calor, elevando a temperatura global. A consequência é um aquecimento acelerado que não tem precedentes na história recente da Terra. Dados históricos mostram que a Terra não experimentou um aquecimento tão rápido e intenso como o que temos observado nas últimas décadas.

Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) têm documentado extensivamente essas mudanças e suas implicações. O Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC reafirma que é “inequívoco” que a influência humana está aquecendo a atmosfera, os oceanos e a terra, resultando em mudanças rápidas e generalizadas. Essas mudanças incluem o derretimento das geleiras, a elevação do nível do mar e a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestades severas e secas prolongadas.

O aumento da concentração de CO₂ e outros gases de efeito estufa, como o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O), é amplamente reconhecido como a principal causa do aquecimento global. Esses gases, ao se acumularem na atmosfera, criam um “cobertor” que impede a dispersão do calor, elevando a temperatura global. A consequência é um aquecimento acelerado que não tem precedentes na história recente da Terra. Dados históricos mostram que a Terra não experimentou um aquecimento tão rápido e intenso como o que temos observado nas últimas décadas.

Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) têm documentado extensivamente essas mudanças e suas implicações. O Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC reafirma que é “inequívoco” (mais de 99% de certeza) que a influência humana está aquecendo a atmosfera, os oceanos e a terra, resultando em mudanças rápidas e generalizadas​. Essas mudanças incluem o derretimento das geleiras, a elevação do nível do mar e a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestades severas e secas prolongadas.

Compreender a ciência por trás do aquecimento global é fundamental para reconhecer a urgência de mitigar os efeitos da mudança do clima e implementar políticas eficazes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A ação coletiva, baseada em uma sólida compreensão científica, é crucial para proteger o nosso planeta e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

 

Emissões de Gases de Efeito Estufa pelo Mundo

As emissões de gases de efeito estufa variam significativamente entre os países e regiões, refletindo suas diferentes trajetórias de desenvolvimento e níveis de industrialização. Historicamente, os países industrializados são os maiores responsáveis pelas emissões acumuladas de CO₂ desde o início da Revolução Industrial.

Principais Emissores Históricos:

  • Estados Unidos: São responsáveis por cerca de 25% das emissões globais acumuladas desde 1750.
  • União Europeia: Contribuiu com aproximadamente 22% das emissões acumuladas.
  • China: Embora seja atualmente o maior emissor anual de CO₂, sua contribuição histórica é de cerca de 13% das emissões globais acumuladas até o presente.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.37.55 | Planeta Campo

Figura 2: Emissões acumuladas de gases de efeito estufa, por países. https://www.climatewatchdata.org/ghg-emissions?end_year=2021&start_year=1990

Emissões Per Capita: As emissões per capita variam amplamente entre os países, refletindo diferenças no consumo de energia, padrões de produção e níveis de desenvolvimento econômico. Por exemplo:

  • Estados Unidos: Continuam a ter uma das maiores emissões per capita do mundo.
  • China: Embora suas emissões totais sejam as maiores, suas emissões per capita são menores do que as de muitos países desenvolvidos.
  • Brasil: As emissões per capita estão relacionadas principalmente ao desmatamento e às atividades agropecuárias, mas são menores em comparação com as dos grandes emissores industriais.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.38.26 | Planeta Campo

Figura 3: Emissões per capita dos países maiores emissores de gases de efeito estufa. https://www.wribrasil.org.br/noticias/4-graficos-para-entender-emissoes-de-gases-de-efeito-estufa-por-pais-e-por-setor

As emissões de gases de efeito estufa estão distribuídas entre vários setores da economia, refletindo a diversidade de fontes que contribuem para o aquecimento global. O setor de energia é o maior responsável, devido à queima de combustíveis fósseis para eletricidade, aquecimento e transporte. O setor industrial também contribui significativamente, tanto por processos industriais quanto pelo uso de combustíveis fósseis. A agricultura, por sua vez, é uma grande fonte de metano e óxido nitroso, resultante da produção animal e da decomposição de resíduos orgânicos. O setor de resíduos contribui com emissões de metano de aterros sanitários e do tratamento de águas residuais.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.39.02 | Planeta Campo

Figura 4: Emissões de gases de efeito estufa por setor. https://www.climatewatchdata.org/ghg-emissions?end_year=2021&start_year=1990

No Brasil, as emissões de gases de efeito estufa variam significativamente entre os estados, refletindo suas diferentes atividades econômicas e níveis de desenvolvimento. Estados com grande atividade agropecuária e desmatamento, como Mato Grosso e Pará, apresentam altas emissões. Estes estados são grandes produtores agrícolas, e o desmatamento para abrir novas áreas de cultivo e pastagem é uma das principais fontes de emissões. Por outro lado, estados mais industrializados, como São Paulo, também contribuem significativamente devido às emissões do setor energético e industrial.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.39.36 | Planeta Campo

Figura 5: Emissões de gases de efeito estufa por setor e por estados em 2021. https://oc.eco.br/publicacoes/

O setor agropecuário no Brasil é um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. As emissões são distribuídas entre várias categorias, refletindo a complexidade e diversidade das atividades agrícolas no país. A fermentação entérica, que é a emissão de metano proveniente da digestão de ruminantes, é uma das maiores fontes. A gestão de estrume, que envolve a emissão de metano e óxido nitroso de resíduos animais, também contribui significativamente. Outras fontes importantes incluem o cultivo de arroz, que emite metano durante a decomposição anaeróbica de matéria orgânica em campos alagados, e a queima de resíduos agrícolas, que libera CO₂, metano e óxido nitroso. Além disso, o uso de fertilizantes sintéticos é uma fonte significativa de óxido nitroso.

Captura De Tela 2024 08 02 As 16.40.31 | Planeta Campo

Figura 6: Emissões de gases de efeito estufa por categoria dentro do setor Agropecuária, no Brasil, em 2021. www.oc.eco.br

Juntos, podemos transformar a crise climática em uma oportunidade de inovação e progresso. Cada ação conta, e cada esforço, por menor que seja, contribui para um futuro mais sustentável e resiliente. Vamos nos unir nessa jornada e garantir que as próximas gerações herdem um planeta mais saudável e equilibrado. “Palavra de Especialista: com Renato Rodrigues” continua a explorar e discutir soluções para um futuro melhor (veja outros artigos em: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7207132640909393920/ e https://planetacampo.canalrural.com.br/colunistas/mudanca-do-clima-o-que-e-efeito-natural-e-o-que-foi-provocado-pelo-homem-ate-2024/). Acompanhe, engaje-se e faça parte da mudança que queremos ver no mundo. No próximo artigo da série, vamos explicar o que é o IPCC e falar sobre a produção científica sobre mudança do clima. Fique ligado!

Renato Rodrigues
Renato Rodrigues Biólogo, Doutor em Geociências e Pós Doutor em Sistemas de Gestão Sustentáveis. Atualmente é Gerente de Desenvolvimento de Mercado da Agoro Carbon, professor convidado da Fundação Dom Cabral e da Universidade Federal Fluminense e membro do UNFCCC Roster of Experts.