Pecuária sustentável: estudo mostra caminhos para superar barreiras no setor

Cadeia da pecuária tem sofrido pressão da sociedade civil e dos mercados para se desassociar do desmatamento.

Com um rebanho de mais de 224 milhões de cabeças de gado, o Brasil é referência na pecuária, sendo o maior exportador de carne bovina do mundo. A possibilidade de atrelar ganhos de produtividade e renda a aspectos socioambientais torna a cadeia da carne fundamental no processo de transição para uma economia inclusiva e sustentável.

Tão grande quanto a oportunidade, contudo, é o desafio de colocá-la em prática. É o que mostra o estudo inédito “Sustentabilidade na cadeia da carne: caminhos para o Brasil e os aprendizados do P4F”, que acaba de ser lançado pela Agroicone e pelo Partnerships for Forests (P4F).

Pressionada pelos mercados e a tomar ações de transparência e sustentabilidade, a cadeia produtiva da carne brasileira tem se adaptado, principalmente com a adoção de tecnologias e de boas práticas agropecuárias, cujos resultados já começam a se tornar visíveis, tanto para o meio ambiente quanto para o produtor rural.

Uma análise dos últimos cinco anos mostra um aumento relevante de produtividade, possivelmente por conta de um melhor manejo, que permite abater um boi em menor tempo e com maior peso. Isso também significa mais gado em menos espaço, o que diminui a pressão por abertura de novas áreas para pastagens, contribuindo para a redução do desmatamento.

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Foto: Mapa

Pecuária sustentável ainda é desafio

No entanto, apesar dos ganhos evidentes, a difusão das boas práticas para os pecuaristas ainda é um desafio.

“O ‘pecuarista’ é composto por um público heterogêneo, que tende a ser avesso ao risco”, explica Gustavo Dantas, um dos pesquisadores do trabalho. Ele destaca que a adoção de boas práticas agropecuárias é uma decisão que parte do produtor rural, geralmente com razões estritamente econômicas.

“É necessário, portanto, um conjunto de instrumentos e incentivos. Ainda existe uma barreira de acesso do produtor rural a esses instrumentos, além de uma dispersão entre os atores, que não atuam de forma conectada”.

Além do diagnóstico, o trabalho avaliou as ações e projetos apoiados pelo P4F em prol de uma cadeia da carne sustentável.

A homogeneização normativa e de processos de monitoramento de desmatamento, metodologias de mensuração de carbono na atividade pecuária e apoio a instrumentos de rastreabilidade e monitoramento são algumas dessas ações.

Os pesquisadores também propõem estratégias para enfrentar os principais desafios mapeados. Ações como incentivar iniciativas e ações de sustentabilidade produtiva, superar as limitações de instrumentos de pagamento por serviços ambientais e certificações, além de aprimorar a rastreabilidade e o monitoramento do gado, especialmente das cadeias indiretas.

Como soluções, respectivamente há a necessidade de prover apoio técnico para que produtores rurais adotem boas práticas agropecuárias; auxiliar a cadeia no fortalecimento desses instrumentos como parte dos mecanismos de fidelização dos pecuaristas; e apoiar uma política nacional de rastreabilidade individual, especialmente em municípios com alto risco socioambiental.