O mais recente boletim meteorológico da NOAA confirmou: o clima em 2025 seguirá sob padrão neutro, sem a influência dos fenômenos El Niño ou La Niña. Mas o que isso muda na prática para quem vive do campo? A resposta veio no quadro Que Clima é Esse?, com o meteorologista Arthur Müller, que explicou como a neutralidade do Pacífico deve influenciar diretamente o planejamento agrícola e pecuário.
Apesar da ausência de extremos climáticos, o período exige atenção. Segundo Müller, o inverno terá chuvas dentro da média, o que já traz certo alívio ao produtor, mas também temperaturas elevadas intercaladas com ondas de frio mais fortes. Isso exige estratégias de adaptação, principalmente para quem atua na pecuária e nas lavouras de milho segunda safra.
Regiões produtoras terão chuvas regulares, mas o frio exige cuidados
De acordo com as análises apresentadas, a primavera tende a ser positiva para a semeadura em grande parte do Brasil. Em setembro, a previsão mostra chuvas acima da média no Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste, especialmente em estados como Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso.
Para o Matopiba, onde a semeadura é mais tardia, as chuvas devem se manter dentro da média, o que dá margem para planejamento com maior segurança. No Norte, apenas o Acre deve registrar chuvas acima da média no início da primavera. A exceção fica por conta do Norte do país, onde a umidade retorna de forma mais lenta.
No entanto, um dos principais alertas emitidos por Müller foi sobre a chegada de uma frente fria intensa nos próximos dias. O meteorologista prevê mínimas abaixo dos 4 °C no Sul, com risco de geadas, principalmente em áreas de baixada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o que pode afetar lavouras, especialmente o milho safrinha.
Pecuaristas devem redobrar cuidados com animais em regiões frias
O destaque da previsão vai além das plantações. Müller fez um alerta importante para os pecuaristas, especialmente aqueles no Pantanal e no Centro-Oeste, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo ele, a onda de frio pode derrubar as temperaturas mínimas para 5 °C a 7 °C no solo, o que representa risco de hipotermia para o gado, acostumado com temperaturas na casa dos 35 °C.
“O frio no ar é uma coisa, mas o frio no solo impacta diretamente o bem-estar dos animais. E no Pantanal, por exemplo, as mínimas tão baixas podem causar estresse térmico grave no rebanho”, destacou o meteorologista.
Além da friagem prevista para o Norte (Amazonas, Acre e Rondônia), o Centro-Sul do país também terá dias com temperaturas muito abaixo da média, o que reforça a necessidade de medidas preventivas nas fazendas — como abrigo para o gado e reforço alimentar para suportar as baixas temperaturas.
Produtor deve ficar atento ao retorno das chuvas e picos de temperatura
Ainda que o clima neutro traga certa estabilidade, os picos de calor e as ondas de frio continuarão alternando no segundo semestre. Para o produtor rural, o mais importante será acompanhar os boletins climáticos semanais e planejar com cuidado as janelas de plantio, os tratos culturais e a gestão do rebanho.
“O outono foi quente, e o inverno também tende a ser acima da média em termos de temperatura. Mas isso não impede episódios de frio intenso, como o que vamos viver agora. É importante não se deixar levar só pela média — os extremos continuam existindo”, reforçou Müller.
Informação climática como ferramenta de produtividade
Ao final do quadro, Arthur Müller reforçou que a informação climática precisa ser aliada da produção rural. Em um ano sem fenômenos extremos como El Niño ou La Niña, a previsibilidade melhora, mas eventos pontuais ainda podem surpreender. Para evitar prejuízos, é essencial que o produtor siga conectado às atualizações do clima.
“A neutralidade climática traz estabilidade, mas não garante tranquilidade total. Frio, calor, chuva e seca continuarão nos testando — por isso, informação é tudo para quem vive do agro”, concluiu.