TECNOLOGIA

Enchentes no RS: tecnologia aprimora a análise da infiltração da água no solo

Embrapa Trigo e Secretaria da Agricultura importam tecnologia dos EUA para estudo avançado do solo.

Enchentes no Rio Grande do Sul causaram destruição e comprometeram a produção agrícola – Foto: Reprodução/Canal Rural
Enchentes no Rio Grande do Sul causaram destruição e comprometeram a produção agrícola – Foto: Reprodução/Canal Rural

Enchentes e secas são desafios cada vez mais frequentes para os produtores rurais no Rio Grande do Sul. A variabilidade climática tem impactado diretamente a produção agrícola, tornando essencial a compreensão do comportamento da água no solo.

Para ajudar nesse diagnóstico, uma tecnologia importada dos Estados Unidos pode transformar a forma como produtores e pesquisadores monitoram a infiltração da água no solo, sua porosidade e os riscos de erosão. Trata-se do infiltrômetro, um equipamento capaz de criar um banco de dados essencial para o manejo agrícola e para a formulação de políticas públicas.

A infiltração de água no solo é um indicador fundamental que se relaciona diretamente com os fenômenos climáticos extremos.

“Hoje, muitas vezes, temos um solo sem a correção adequada ou com uma camada compactada. Isso limita a infiltração da água e, em períodos de chuvas intensas, resulta no escoamento superficial, que pode causar erosão”, explica o coordenador do Plano ABC+ Rio Grande do Sul, Jackson Brilhante.

Em regiões onde a erosão do solo é intensificada, o problema das enchentes se agrava. Isso ocorre porque a perda da camada superficial do solo compromete a capacidade de retenção da água.

Quando as chuvas são fortes e frequentes, a água não consegue se infiltrar de maneira eficiente no solo, resultando em escoamento rápido. Esse escoamento excessivo aumenta o volume de água nos rios, causando transbordamentos e enchentes.

Demonstração do infiltrômetro da Embrapa Trigo no pátio da Secretaria da Agricultura – Foto: Fernando Dias/SEAPI.

Como funciona o infiltrômetro?

O infiltrômetro é um aparelho que mede a velocidade com que a água penetra no solo. Com essas informações, o produtor pode identificar se o solo está perdendo água rapidamente ou se consegue retê-la por mais tempo.

Esse diagnóstico permite um manejo mais eficiente, evitando tanto o desperdício de água quanto o estresse hídrico das plantas. A compactação do solo é um problema recorrente e pode ser de origem física ou química.

“Quando diagnosticamos esse problema, observamos que ele pode impedir que a planta suporte uma semana sem chuva, já entrando em estresse hídrico. Com essa ferramenta, conseguimos um diagnóstico mais qualificado e, a partir disso, monitorar e melhorar a gestão dessas áreas”, destaca o chefe adjunto da Embrapa Trigo, Giovani Stefani Faé.

Segundo ele, quando a água infiltra no solo de forma eficaz, as plantas conseguem acessar essa água por meio das suas raízes. A infiltração permite que a água se mova para camadas mais profundas do solo, onde as raízes das plantas podem absorver os nutrientes e a umidade de maneira gradual e constante.

Tecnologia a favor da agricultura

A rapidez e a precisão da análise são grandes diferenciais do infiltrômetro. Além de proporcionar ao produtor um manejo mais inteligente, a tecnologia também tem um papel estratégico na formulação de políticas públicas.

“Não adianta falarmos sobre terraceamento ou irrigação se não houver infiltração de água no solo. Essa métrica é fundamental para o sucesso de práticas essenciais em alguns ambientes”, reforça Faé.

Um estudo realizado na Bacia do Guaíba, em parceria com universidades como a Federal do Rio Grande do Sul e a Federal de Santa Maria, demonstrou que um aumento de 10 mm/h na taxa de infiltração da água no solo pode reduzir em 1,7 metro o nível da água acumulada nos rios da região.

Nas enchentes do ano passado, a principal região atingida foi a da Bacia Hidrográfica do Guaíba, que corresponde a 30% da área total do Estado e engloba as bacias do Caí, Gravataí, Jacuí, Pardo, Sinos, Taquari-Antas e Vacacaí. 

Um novo olhar sobre o solo

Com tamanha diversidade de solos e climas no Rio Grande do Sul, mapear essas variações é essencial para entender como otimizar a infiltração da água.

“Nosso objetivo é elevar a taxa de infiltração dos solos gaúchos, que hoje variam entre 10 e 30 mm/h, para patamares entre 50 e 100 mm/h, quando o produtor adota um manejo adequado”, explica Faé.

Para ampliar o uso da tecnologia, a Secretaria da Agricultura, em parceria com instituições de pesquisa, está criando um grupo de trabalho para analisar os dados coletados pelo infiltrômetro. Algumas universidades também receberão os equipamentos para aprofundar os estudos e gerar informações científicas que auxiliem na tomada de decisão.

“A academia tem um papel importante ao analisar a questão científica de forma aprofundada, gerando respostas que nos permitam progredir cada vez mais com essa pauta no estado”, finaliza Jackson Brilhante.

Enchente histórica

As intensas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e maio de 2024 causaram estragos devastadores, principalmente no setor rural. O Relatório de Perdas, divulgado em 3 de junho pelas secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e de Desenvolvimento Rural (SDR), revelou a magnitude da tragédia.

Mais de 206 mil propriedades rurais foram afetadas pelas inundações e deslizamentos de terra, deixando um rastro de prejuízos que comprometeram tanto a produção agrícola quanto a infraestrutura rural. Ao todo, 34.519 famílias ficaram sem acesso à água potável.

O levantamento abrangeu o período entre 30 de abril e 24 de maio e foi elaborado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), com dados coletados por meio do sistema Sisperdas.

As informações foram extraídas dos escritórios regionais e municipais da Emater, proporcionando uma visão detalhada do impacto das chuvas no estado. Durante esse período, 9.158 localidades gaúchas foram atingidas.

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