
Em fevereiro deste ano, uma operação resgatou 207 trabalhadores vítimas de trabalho escravo em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul.
Eles trabalhavam na colheita da uva para três vinícolas da região. A ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal, o Ministério do Trabalho e Emprego e a Polícia Federal flagrou baixas condições de higiene e refeições estragadas.
Os trabalhadores, em sua maioria vindos da Bahia, relataram que eram mantidos presos, sem receber salários e sofrendo violência.
Eles foram recrutados pela empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. para fazerem a colheita para as vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi.
Por meio de notas, as três vinícolas disseram desconhecer a situação e que apenas usavam o serviço da terceirizada.
Grande parte dos trabalhadores já voltou para suas cidades de origem e recebeu indenizações.
“Toda essa cadeia produtiva deve trabalhar de forma conjunta e unificada para combater questões de trabalho degradantes. O setor agropecuário deve adotar medidas de responsabilidade social e empresarial que incluam o respeito aos direitos humanos e trabalhistas,” comenta o colunista Caio Magri sobre o caso.
Magri reitera ainda que não há nenhuma ocasião que justifique o uso de trabalho escravo ou de mão de obra forçada em qualquer setor produtivo, principalmente no agronegócio onde foi registrado a maior porcentagem de trabalho análogo à escravidão.
“Tem de haver mais ações concretas com relação ao combate da escravidão, principalmente com relação as empresas e cooperativas. Há necessidade de fiscalização das cadeias produtivas, formação e capacitação dos fornecedores.
Resgates em 2022
No ano passado, 2.575 trabalhadores foram resgatados de condições análogas às de escravo, um terço a mais que em 2021.
Do total de resgates em 2022, 35 eram crianças e adolescentes. Os dados são da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.
Ao todo, foram realizadas 462 fiscalizações que resultaram em mais de R$ 8 milhões em verbas salariais e rescisórias. Como algumas ações ainda estão em andamento, esse valor pode ser corrigido.
Minas Gerais foi o estado com mais ações, tendo mais de mil trabalhadores resgatados. A maior delas ocorreu no município Varjão de Minas, onde 273 trabalhadores foram encontrados em condições degradantes na atividade de corte de cana-de-açúcar.
Dados do seguro-desemprego mostram que nove em cada dez vítimas eram homens, quase um terço tinha entre 30 e 39 anos, e mais da metade eram nordestinos. Cerca de 80% do total de resgatados eram negros ou pardos.
Entre as principais atividades econômicas fiscalizadas usando mão de obra análoga à de escravo, estão: cultivo de cana-de-açúcar; produção de carvão vegetal; cultivo de alho, café, maçã e soja; extração de pedras e madeira; criação de bovinos; construção civil; em restaurantes e confecção de roupas.
As denúncias de trabalho análogo ao de escravo podem ser enviadas pela internet, ao site do Sistema Ipê.
As informações partem da Agência Brasil.