Projeto estimula a bioeconomia no Pará e empodera comunidades tradicionais
O Plano de Bioeconomia do estado já recebeu investimentos de mais de R$ 1 milhão
Primeiro estado do Brasil a elaborar um Plano de Bioeconomia, o Pará também será o primeiro a executar políticas de combate aos efeitos das mudanças climáticas, como o projeto Inova Sociobio.
A iniciativa já recebeu investimentos de mais de R$ 1 milhão e, atualmente, capacita cerca de 500 integrantes de comunidades indígenas e quilombolas em atividades de geração sustentável de produtos florestais e em acesso ao mercado.
“A comunidade executa, não importa o tamanho do recurso, e o projeto empodera a comunidade para refletir a cada passo do coletivo. É desafiador construir algo coletivo e comunitário na Amazônia”, diz José Ivanildo Brilhante, extrativista do município de Gurupá e coordenador do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
Inova Sociobio
O Inova Sociobio é um dos projetos implementados pelo estado no primeiro ano de execução de seu Plano de Bioeconomia – um modelo de transição econômica baseada em atividades produtivas de baixa emissão de carbono. Com mais de 90 ações previstas por 14 secretarias do Governo, já com suporte orçamentário deste ano, o Plano de Bioeconomia do Pará, pioneiro no Brasil, confere potencial ao Estado para ser líder nacional nessa área.
Lançada no início de 2022, como fruto de parceria entre Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado (Semas), The Nature Conservancy (TNC), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega (NICFI), na sigla em inglês), a iniciativa Inova Sociobio investe nas cadeias da socio bioeconomia em que atuam povos e comunidades tradicionais. O objetivo é gerar renda mantendo a floresta em pé e beneficiando principalmente jovens e mulheres de comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas.
Para Ivanildo Brilhante, o Inova Sociobio é a construção coletiva de um sonho de consumo das comunidades tradicionais.
“Iniciativas como o Inova Sociobio são um sonho de consumo destes povos. Um sonho de ter um crédito diferenciado e atualizado, o uso do recurso natural da forma que a natureza suporta. O sonho desses atores sociais é melhorar de vida, ganhar visibilidade e que os seus produtos sejam consumidos também por atores conscientes e que suas famílias se sintam felizes por estar ganhando dinheiro, mas mantendo a floresta viva e manejada.”
Contribuição social e ambiental
O Inova Sociobio já implantou seis pontos de inovação em bioeconomia em territórios de povos e comunidades tradicionais nas regiões do Marajó, Baixo Amazonas e Tocantins. Já foram investidos pelo Governo do Estado mais de R$ 1,2 milhão em sua execução e 420 integrantes de comunidades tradicionais já são beneficiárias do projeto.
As ações capacitam jovens e mulheres das comunidades em empreendedorismo e inovação em atividades de bioeconomia, além de mentoria para bioempresas. Também foram realizadas oficinas sobre cultura empreendedora, inovação, bioeconomia e acesso ao mercado.
Bioeconomia: mudando vidas
Na Comunidade Nossa Senhora da Boa Esperança, do município de Curralinho, no Marajó, o Inova Sociobio implantou Ponto de Inovação que beneficia viveiro de mudas construído pelos moradores, em ação colaborativa do projeto.
“Nós acreditamos na sociobioeconomia porque pensamos ser importante ter esta interação com as pessoas para desenvolver a economia local dentro dos territórios. Este viveiro alimenta a esperança de nossa comunidade sobre nosso futuro e como parte da construção de todo esse processo. Nós temos, hoje, no viveiro, plantadas 51 espécies frutíferas e madeireiras. Isto nos dá a possibilidade de nós termos nossas casas, nossos barcos, nossos cascos. Além da alimentação, que é da sociobiodiversidade, que é uma alimentação saudável e que traz segurança alimentar, nutricional e socioambiental”, afirma Letícia Santiago de Moraes, integrante do CNS e extrativista do Projeto de Assentamento Extrativa Ilha São João, da comunidade Boa Esperança.
“No viveiro, nós temos cupuaçu, abacate, acerola, goiaba, limão, laranja, ingá, uma infinidade de mudas que são frutíferas e outras que são madeira mesmo, como cumaru, cedro, paracuúba, que são espécies locais. Não fizemos introdução de nenhuma espécie de fora. São todas espécies nativas”, diz Letícia Santiago.
Ela ressalta o objetivo sustentável do projeto.
“A floresta deitada não tem mais vida. Por isso que o projeto traz o valor da floresta, para que possamos enriquecê-la e contribuir com seu enriquecimento em outras comunidades. Nós temos propostas de compra de nossas mudas e é claro que isso é interessante para nós, mas primeiro queremos cuidar do nosso território, e depois pensar neste contato comercial de comercialização destas mudas”.
O caráter participativo da construção da política de bioeconomia pelo estado é fundamental, afirma a extrativista.
“Esta co-construção, junto com os parceiros, é fundamental para o fortalecimento. Quando uma instituição como a própria secretaria de Meio Ambiente do governo do Estado, a TNC, o CNS chega até as bases, junto com a associação local, junto com as cooperativas e dá este fortalecimento, não é apenas a comunidade que se fortalece, mas é um conjunto de organizações que se fortalecem”.
“O próximo passo do Inova Sociobio, já em setembro, será a realização de workshops para verificar as entregas de cada comunidade”, informa Mauro O’de Almeida, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas).
“Em 2024, vamos implementar a ampliação das ações do Inova Sociobio para 20 comunidades. Este projeto fomenta o empreendedorismo e a inovação em cadeias da sócio bioeconomia de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, beneficiando principalmente jovens e mulheres”, completa Mauro O’de Almeida.
“Nós estamos esperançosos, dentro deste diálogo, por uma co-construção que renda outros frutos, para além do Inova Sociobio”, afirma Letícia Santiago.
“Este projeto abriu as portas para que a gente começasse a ter um diálogo mais amplo com o governo do estado e para que o ele nos ouvisse mais também. É um processo em construção, mas estamos conscientes de que podemos nos fortalecer dentro deste diálogo e, junto com ele, as comunidades, os municípios, o Estado e a federação”, completa.